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sábado, 10 de setembro de 2011

'A gente ia subir no teto', diz moradora que ficou ilhada em Blumenau


Rosanne D'AgostinoDo G1, em Blumenau (SC)
No escuro, sem energia elétrica, a tentativa de chamar a atenção dos bombeiros era acenar com uma vela, do segundo andar da casa, para tentar pedir socorro. Para Erika Reinhold, 61 anos, a ajuda veio quase 12 horas depois da primeira ligação para a emergência. “Era um mar, nunca vi tanta água”, diz a moradora de Blumenau, que ajudou a salvar a filha e a neta das enchentes do rio Itajaí-Açu, em Santa Catarina.
As fortes chuvas que atingem Santa Catarina nesta semana fizeram com que 34 cidades decretassem situação de emergência, segundo boletim da Defesa Civil divulgado às 20h desta sexta-feira (9). Dois municípios decretaram estado de calamidade pública, e a Defesa Civil confirmou duas mortes por conta das chuvas no estado.
Erika (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)Erika Reinhold com a filha e a neta em abrigo
(Foto: Rosanne D'Agostino/G1)
Segundo a filha Silvana, 26, a primeira ligação de ajuda aconteceu às 11h desta quinta-feira (8), quando os comerciantes começavam a fechar as portas, em razão do aviso da Defesa Civil, de que o rio ultrapassaria os 10 metros. “A gente não achou que ia dar tanta água. Quando vimos, não tinha mais saída”, afirma.
A primeira preocupação não foi com o nível do rio, mas com a desocupação da cidade. Por volta da meia-noite, a água tomou conta do primeiro andar inteiro da casa. Mais um chamado foi feito para a Defesa Civil. “Então a gente viu aqueles botes vindo. A gente ia subir no teto. Via só rato, cachorro, gato nadando. Uns dois metros ou mais de água”, conta Erika, que acenava com a vela na tentativa de chamar a atenção das equipes. A vela foi o que fez com que os bombeiros fossem até a casa, que já estava totalmente isolada.
“Foi então que eles vieram. Elas falaram que eu não ia pular, mas eu, por amor a esse anjo, a minha neta, que só tem dois anos, tirei as meias e pulei. A casa do lado tampou tudo. Tinha só uns centímetros para fora da água”, conta. “Foi o dia mais ruim da minha vida. Muito medo, mas eu não pensava em mim, eu só pensava nelas.”
Há 25 anos em Blumenau, Erika diz não pensar nos móveis e eletrodomésticos perdidos. “Eu penso só no cachorrinho da minha neta que deixei lá. Espero que a água não tenha subido mais. Deixei comida. Mas também, não sei se tenho mais coragem de ficar lá. Já pensou morrer assim? Ninguém ia achar a gente.”
Cristina (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)Cristina Vieira diz que perdeu tudo em 2008
(Foto: Rosanne D'Agostino/G1)
'Gato escaldado'
Erika está abrigada em um galpão oferecido por uma empresa para os desalojados das chuvas no bairro de Vila Nova. A segurança é feita pelo Exército. No mesmo abrigo, Cristina Vieira, 28, afirma não ter sido surpreendida pelas chuvas. “Tenho três filhos. Perdi tudo em 2008 e já estava alerta. Vim para o abrigo antes de alagar”, afirma.
Sem água e sem luz, ela afirma que, junto com o marido, fecharam a casa e saíram. “Gato escaldado já sabe. A gente se mudou de casa por causa da enchente. Não sei até agora se minha casa encheu, mas parece que sim. Passamos o dia todo tentando salvar alguma coisa. Agora é voltar e ver se deu certo e começar a limpeza.”

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