Duas estudantes de teatro promoveram uma manifestação inusitada, na noite desta terça-feira, na Cinelândia, no Centro do Rio. Cercadas por uma multidão, que corria por todos os lados das bombas de gás lacrimogêneo lançadas por policiais militares, durante um protesto, elas decidiram improvisar um “jantar”, como se estivessem em casa - com direito a mesa, comida e televisão -, em meio à praça carioca. A performance de Fernanda Vizeu e Ariane Oliveira de Souza chamou a atenção de quem passava pelo local e também nas redes sociais.
Um vídeo, que registra o momento, divulgado pelo cinegrafista amador Eduardo Fraga, em seu perfil no Facebook, faz sucesso entre os internautas e já registrou mais de 200 compartilhamentos e quase 60 comentários, em apenas 48 horas.
Nas imagens, as meninas aparecem jantando, enquanto assistem televisão, na praça. Logo, bombas de gás lacrimogêneo são lançadas próximo à elas. Há confusão e correria entre os que estão no local. Sem se importarem, elas colocam máscaras e continuam o “jantar”. As meninas atraem a atenção de curiosos, inclusive Black Blocs, que observam a cena intrigados. Veja:
Eu e Ariane somos artistas, estudamos na Escola de Teatro Martins Pena e queríamos fazer algo que provocasse as pessoas, um manifesto diferente. Mas a gente não sabia direito que podia ser tão forte. Era só uma performance no meio da manifestação. Mas com essa repercussão toda, comecei a perceber que a performance não é nossa, é de todo mundo que está na rua – explica Fernanda.
A ação foi elogiada na internet. “Mega consciência de cidadania, compromisso com a liberdade de expressão artística. Orgulho de vocês. Parabéns, grupo!”, escreveu Monica Karl, sobre o vídeo, no Facebook. Uma foto do momento, feita por Byron Prujanfky, também conquistou os usuários da rede social, sendo compartilhada mais de mil e quinhentas vezes.
Para Ariane, a ação foi uma forma encontrada para contribuir com a manifestação utilizando a arte:
– Claro que esperávamos passar a ‘nossa mensagem’ na nossa performance. Assim como os médicos, que davam assistência médica gratuita; os advogados, que defendiam os manifestantes das estranhas vozes de prisão que eram lançadas para todos; ou como os corajosos grupos mascarados, que defendiam com o próprio corpo os seus irmãos da violência policial. Mas a nossa mensagem é aquela que você viu ou sentiu e nada mais, simples assim. Ela é, e existiu naquele momento em que estávamos entre os manifestantes aterrorizados, com os sons de bomba e com os olhos lacrimejados de gás.
Detidos
Após o protesto na Cinelândia, por conta do elevado número de pessoas detidas na confusão entre mascarados e policiais militares, a Polícia Civil adotou a medida de dividir as ocorrências em dez delegacias da cidade. De acordo com os advogados da OAB, pelo menos 208 pessoas foram encaminhas para as delegacias.
Dez policiais militares e seis manifestantes ficaram feridos. Os manifestantes feridos, todos sem gravidade, foram levados para o Hospital Souza Aguiar, no Centro. Nove policiais foram socorridos para o Hospital da PM, no Estácio. Um PM, que teria levado uma pedrada, também foi encaminhado para o Souza Aguiar.
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