segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Em novo texto, Dom Odilo critica chefe da campanha de Russomanno


site arquidiocese são paulo (Foto: Reprodução)Novo texto de Dom Odilo foi publicado no site da
Arquidiocese de São Paulo (Foto: Reprodução)
O cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, publicou, neste domingo (16), um texto em que reafirma as críticas feitas pela Arquidiocese da capital ao pastor Marcos Pereira, presidente do Partido Republicano Brasileiro (PRB) e atual coordenador da campanha de Celso Russomano. No novo texto, intitulado “Política, com ofensas à Igreja, não!”, Dom Odilo afirma que a “instrumentalização da religião, em função da busca do poder político, não prometem ser um bem para a sociedade” (leia a íntegra do texto abaixo). A assessoria de imprensa da campanha de Russomanno informou ao G1nesta segunda-feira (17) que Pereira não irá comentar o novo texto da liderança católica.
“Entendemos que o voto dos cidadãos é livre e não deve ser imposto aos fiéis, como por 'cabresto eleitoral', pelos ministros religiosos; nem devem nossos templos e organizações religiosas ser transformados em 'currais eleitorais'”, diz o novo texto publicado no site da Arquidiocese de São Paulo e assinado pelo próprio Dom Odilo.

As críticas de Dom Odilo referem-se ao texto publicado em maio de 2011 no blog de Pereira, em que ele associa o "kit anti-homofobia", que ficou conhecido como "kit gay", à influência da Igreja Católica. A mensagem do pastor voltou a circular nas redes sociais e provocou a primeira reação católica.
Na quinta-feira (13), a Arquidioces havia publicado em seu site uma "nota de repúdio" a um artigo de Pereira. Na sexta (14), a Arquidiocese publicou nova nota, explicando seu posicionamento. Ainda na sexta-feira, Pereira disse em seu blog que manifestou sua liberdade de pensamento e lamentou que o texto tenha voltado à tona um ano e quatro meses depois “de maneira indevida às vésperas da eleição para a Prefeitura de São Paulo”.
No texto publicado neste domingo, o arcebispo de São Paulo considera inaceitável que a campanha eleitoral fomente “um clima de intranquilidade” entre os cristãos. O religioso afirma que o texto do blog de Pereira já estava sendo veiculado nas redes sociais para uso eleitoral antes mesmo na manifestação da Igreja Católica, na quinta-feira. “A Arquidiocese não aceita a afirmação de que o fato foi trazido à tona por ela mesma, ou por um “falso blogueiro”, uma vez que nem o próprio autor negou a autoria do escrito, que se encontra atualmente no seu blog, e também nos “sites” relacionados com o mesmo partido. Portanto, o artigo já estava sendo usado na campanha eleitoral, antes da manifestação da Arquidiocese”, diz Dom Odilo.
O texto "Política, com ofensas à Igreja, não!" foi lido na missa presidida pelo arcebispo de São Paulo, às 11h deste domingo, na Catedral da Sé. As 300  paróquias da capital foram orientadas a divulgar o material.
Ao jornal “O Estado de S.Paulo” desta segunda-feira (17), o pastor Marcos Pereira informou que considerava a polêmica encerrada e que não comentaria o texto publicado pelo líder católico neste domingo. “Não vou alimentar um assunto que não acrescenta nada à democracia”, disse Pereira ao jornal.
Íntegra do texto de Dom Odilo
Política, com ofensas à Igreja, não!

Na atual campanha eleitoral para os cargos do Poder Municipal, a Arquidiocese de São Paulo tem procurado manter uma postura coerente com as disposições canônicas da Igreja Católica e com suas próprias orientações pastorais. Instruções foram passadas ao clero, para que os espaços e os momentos de celebrações religiosas não sejam utilizados para a propaganda eleitoral partidária, nem para pedir votos para candidatos. Estas orientações também estão sintonizadas com as próprias normas da Justiça Eleitoral.

Entretanto, a mesma Arquidiocese, através de seu Arcebispo e dos Bispos Auxiliares, também deu orientações e critérios sobre a participação dos fiéis na campanha eleitoral e na vida política da cidade e sobre a escolha de candidatos idôneos, embora sem citar nomes ou partidos. Essas orientações estão amplamente divulgadas. Entendemos que o voto dos cidadãos é livre e não deve ser imposto aos fiéis, como por “cabresto eleitoral”, pelos ministros religiosos; nem devem nossos templos e organizações religiosas ser transformados em “currais eleitorais”, reeditando práticas de uma política viciada, que deveriam estar superadas. A manipulação política da religião não é um benefício para o convívio democrático e pluralista e pode colocar em risco a tolerância e a paz social.

Também com este propósito, enquanto organização presente de maneira capilar na cidade, a Arquidiocese de São Paulo convidou os 5 candidatos, atualmente mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais, sem distinção de partido, para um colóquio com o clero e os religiosos, no próximo dia 20 de setembro, para que os candidatos tenham a ocasião de apresentar seus projetos e propósitos de governo e, da parte do clero e dos religiosos, possam ouvir os questionamentos sobre assuntos que interessam muito o povo de São Paulo e dizem respeito a realidades e questões, nas quais as organizações da nossa Igreja estão profundamente inseridas e envolvidas.

Consideramos que a manipulação e instrumentalização da religião, em função da busca do poder político, não prometem ser um bem para a sociedade e não são coerentes com os princípios da liberdade de consciência e do legítimo pluralismo no convívio dos cidadãos. Além de tudo, isso poderia deixar divisões e feridas dificilmente cicatrizáveis no seio das religiões e das comunidades religiosas.

Muito nos entristeceu, no contexto da propaganda eleitoral partidária, ver a Igreja Católica Apostólica Romana atacada e injuriada, de maneira injustificada e gratuita, justamente num artigo do chefe da campanha de um candidato à Prefeitura de São Paulo. Coisas ali ditas sobre a Igreja Católica são difamatórias e beiram ao absurdo, merecendo todo o repúdio. Não foram ofendidos e desprezados apenas os fiéis católicos da Arquidiocese de São Paulo, mas de toda a Igreja Católica no Brasil, uma vez que o autor do infeliz escrito também é chefe nacional do partido que representa.

Semelhantes ataques são inaceitáveis e a Arquidiocese de São Paulo não podia deixar de se manifestar, como fez com uma Nota de Repúdio, através de sua Assessoria de imprensa, durante a semana que passou. A Arquidiocese não aceita a afirmação de que o fato foi trazido à tona por ela mesma, ou por um “falso blogueiro”, uma vez que nem o próprio autor negou a autoria do escrito, que se encontra atualmente no seu blog, e também nos “sites” relacionados com o mesmo partido. Portanto, o artigo já estava sendo usado na campanha eleitoral, antes da manifestação da Arquidiocese.

Também é inaceitável que na campanha eleitoral se fomente um clima de intranqüilidade entre os cristãos das diversas comunidades e denominações, que convivem na cidade de São Paulo. Temos muito em comum na nossa fé e somos todos cidadãos desta cidade imensa, onde nossa atuação e testemunho comum de fé têm muito a contribuir para o bem da cidade, especialmente no serviço à justiça social, à verdade, à dignidade humana e na solidariedade para com os que mais sofrem e mais precisam das atenções do Poder Público municipal.

Reiteramos nossa orientação para que os fiéis católicos votem de maneira consciente, livre e responsável, e de acordo com os princípios e valores que orientam suas próprias vidas e da fé que abraçam, contribuindo para que nossa cidade seja governada por Autoridades dignas e atentas à promoção do bem da cidade, mais que aos interesses de parte, e capazes de promover a solidariedade e a paz entre todos os habitantes desta Metrópole.

Cardeal D.Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
G1

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