Desde janeiro de 2011 até o dia 4 de fevereiro deste ano, foram registrados 181 apagões no país, considerando todas as falhas de energia, independentemente do tamanho da área afetada, do período ou da carga interrompida, segundo um levantamento feito pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).
"Não importa se o apagão afetou apenas alguns estados ou se aconteceu durante 5 minutos. Alguém certamente foi prejudicado", disse aoG1 o diretor do CBIE, Adriano Pires.
Em 2013, foram registrados 45 beclautes com carga de energia interrompida acima de 100 megawatts. Destes, a pesquisa destaca um ocorrido
em 28 de agosto, de 10.900 megawatts. Na ocasião, houve falta de energia no Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, em Alagoas, Sergipe, Pernambuco, e na Bahia e Paraíba.
Quatro regiões atingidas
Na terça-feira, uma falha em uma linha de energia que liga o Norte ao Sudeste do país provocou falta de luz em todos os estados do Sudeste, do Sul e do Centro-Oeste, além do Tocantins, na Região Norte. Pelo menos 11 estados tiveram o fornecimento de eletricidade comprometido e ao menos 6 milhões de pessoas foram afetadas pelo apagão, segundo estimativas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Em entrevista coletiva na terça-feira, na sede do Ministério de Minas e Energia, em Brasília, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, descartou que a falha esteja relacionada ao aumento do consumo de energia nas últimas semanas, provocado pelo calor.
'Sistema funcionou', diz governo
Zimmermann apontou, durante a coletiva, que não houve "desligamento descontrolado" e que a interrupção no fornecimento de energia foi provocada por um sistema automático que atua na rede de transmissão de energia elétrica e impede que uma falha cause problemas maiores.
"Aparentemente, o sistema funcionou como deveria. Poderia ter acontecido [interrupção no fornecimento de luz] como em outros eventos, como quando apagou o Nordeste todo", disse.
O secretário-executivo se refere ao
episódio ocorrido em 28 de agosto do ano passado, quando uma queimada em uma fazenda do Piauí atingiu a rede de distribuição de energia e deixou todos os estados do Nordeste sem eletricidade. Na ocasião, a distribuição caiu de 10 mil megawatts para mil megawatts e deixou no escuro, por algumas horas, boa parte dos municípios da região.
"[A falha no fornecimento registrada na terça] não tem nada a ver com estresse do sistema", afirmou o secretário-executivo.Zimmermann disse ainda que o sistema de energia brasileiro é “complexo”, conta com mais de 100 mil quilômetros de linhas de transmissão e que falhas como a registrada na terça-feira "ocorrem, apesar de trabalharmos com nível de confiabilidade muito alto".
Negou risco de desabastecimento
No início da entrevista coletiva, Zimmermann também afirmou que não existe risco de faltar energia no país por causa da falta de chuva e da queda no nível dos principais reservatórios de hidrelétricas.
"Esse aspecto conjuntural agravado [falta de chuva] é um processo que um sistema como o nosso é planejado para lidar", apontou.
Em entrevista à GloboNews, o secretário-executivo disse ainda que o sistema está equilibrado e que "foi planejado para aguentar condições muito piores" que a atual, de pouca chuva.
"Em termos de afluência, tivemos um janeiro atípico, muito abaixo da média de longo prazo. Apesar disso, temos um equilíbrio estrutural entre oferta e demanda [de eletricidade]. Temos uma grande quantidade de usinas e uma diversificação que permitem que, mesmo tendo um janeiro ruim em termos de afluência, não tenhamos nenhum problema no fornecimento de energia", disse Tolmasquim.
Recorde negativo
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, afirmou que a afluência (quantidade de água que chega aos reservatórios das hidrelétricas e pode ser transformada em energia) em janeiro é a pior desde 1954 para as regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde estão as usinas responsáveis por 70% da geração de energia do país.
Veja o que aconteceu em cada um dos 11 estados atingidos na terça-feira:
Espírito Santo
Sete municípios do estado registraram apagão elétrico na tarde de terça. Segundo a Espírito Santo Centrais Elétricas S. A. (Escelsa), as cidades de Nova Venécia, Ecoporanga, Mantenópolis, Barra de São Francisco, Água Doce do Norte, Vila Pavão e Aracruz (apenas o bairro Barra do Sahy) foram atingidas.
Goiás
A Companhia Energética de Goiás (Celg) informou que o apagão atingiu cerca de 300 mil consumidores no estado. Em nota, companhia disse que 50 cidades goianas ficaram sem energia.
Mato Grosso
Na capital, Cuiabá, em 3 minutos já começou a ser restabelecido o serviço de energia, mas o
ONSsolicitou desligamento da área em virtude das falhas registradas.
Mato Grosso do Sul
Em Campo Grande, 4% da cidade foi afetada. Essas localidades, segundo a companhia, representam 14% da área de concessão.
Minas Gerais
Cerca de 230 mil pessoas em 63 cidades mineiras ficaram sem energia elétrica, de acordo com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). A empresa informou que foram atingidos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, do Sul, Oeste e Leste do estado e do Triângulo Mineiro.
A empresa informou que o problema ocorreu às 14h02 e começou a ser resolvido às 14h48. A Cemig também disse que às 15h58 todos os locais já estavam com a energia restabelecida.
Paraná
Rio de Janeiro
A Light informou que interrompeu o fornecimento de energia em bairros do Subúrbio e da Zona Oeste do Rio e da Baixada Fluminense, a pedido do ONS.
A falta de energia atingiu os bairros de Bangu, Campo Grande, Guaratiba e Jacarepaguá, na Zona Oeste; Méier, Pavuna, Inhaúma, Irajá, Penha, Cascadura e Madureira, no Subúrbio; e os municípios de Mesquita, Belford Roxo, Queimados e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Rio Grande do Sul
Houve interrupção no fornecimento de luz em mais de 392 mil pontos de pelo menos 73 municípios do Rio Grande do Sul. Os dados são das três mais importantes companhias de energia elétrica e da maior cooperativa de distribuição do estado. Em todos os locais, o desligamento ocorreu por volta das 14h e terminou antes das 16h.
Santa Catarina
São Paulo
A AES Eletropaulo informou que o problema afetou o fornecimento de energia em cidades da Grande São Paulo (Vargem Grande Paulista, Embu, Diadema e Cotia) e em bairros da capital paulista, atingindo mais de 1,2 milhão de consumidores na capital.
Entre os bairros da capital impactados, estavam: Capão Redondo, Pedreira, Cidade Ademar, Mooca, São Mateus, Vila Prudente, Itaquera, Vila Mariana, Guaianases e Vila Matilde.
O problema em São Paulo chegou também ao Metrô da capital. A ViaQuatro, que opera a Linha 4-Amarela, relata que houve uma "falha no sistema elétrico de tração entre o trecho das estações Paulista e Luz" na tarde de terça-feira. A concessionária informou, às 15h40, que a operação havia sido restabelecida às 15h18.
Tocantins
Segundo a Companhia de Energia Elétrica do Estado do Tocantins (Celtins), o apagão atingiu 95 das 139 cidades do estado. A interrupção do fornecimento de luz durou 4 minutos, entre as 13h03 e as 13h07 (horário local), e afetou 362 mil unidades consumidoras.
Apagões recentes
Além do apagão no Nordeste em agosto do ano passado, houve interrupções de energia na região em setembro e outubro de 2012.
Em 22 de setembro daquele ano, segundo o ONS, um problema nas interligações Sudeste/Norte e Sudeste/Nordeste atingiu o fornecimento de eletricidade em parte do Nordeste.
Em outubro de 2012, outra ocorrência afetou os nove estados da região, entre o final da noite do dia 25 e o início da madrugada do dia 26.
G1