quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

'Motoboy do YouTube' é investigado por atropelar e matar pedestre em SP


O comerciante Kleber Atalla, de 51 anos, que ganhou fãs e críticos no YouTube por postar vídeos nos quais comete infrações de trânsito em São Paulo dirigindo uma motocicleta, é investigado por atropelar e matar  um pedestre que atravessava a rua no Centro utilizando a faixa. No dia do acidente, em 28 de janeiro, Atalla dirigia um carro (veja no vídeo ao lado).

De acordo com a Polícia Civil, além de responder em liberdade pelo crime de homicídio culposo (sem intenção) na direção de veículo automotor, Atalla também é investigado pelos vídeos postados na internet. A avaliação dos policiais é que as imagens fazem apologia aos crimes de racha, dirigir sem habilitação e em velocidade acima da permitida.

Desde segunda-feira (11), o G1 tenta contato com Atalla, mas não obteve retorno. Em um vídeo postado no domingo (10) no YouTube, o motorista se exime de culpa no atropelamento. Afirma que não cometeu infração e que ele que foi "atropelado" pelo pedestre, que atravessou na faixa, mas no momento em que o semáforo estava aberto para os veículos.

O advogado Luiz Carlos Aguiar, que representa o comerciante, disse que só vai se pronunciar sobre seu cliente na sexta-feira (15). Atalla ainda não foi interrogado pela polícia, que deverá indiciá-lo pelos dois crimes pelos quais está sendo investigado.

O instalador não havia esperado o semáforo ficar vermelho para os veículos para poder atravessar. Ao ser atingido, o pedestre caiu na pista. Ele teve traumatismo craniano, foi socorrido e internado no Santa Casa de Misericórdia, em Santa Cecília, no Centro, onde morreu em 5 de fevereiro. A equipe de reportagem não conseguiu localizar os parentes da vítima para comentar o assunto.Atropelamento
O acidente que deu origem às investigações ocorreu no mês passado, durante a tarde. Atalla guiava um carro modelo Fiat Strada Adventure pela Avenida Duque de Caxias quando fez uma mudança de pista, da direita para a esquerda, e atingiu o instalador Antonio Farias da Costa, de 53 anos, que atravessava a faixa de segurança para pedestres. A faixa fica no cruzamento da via com a Rua Barão de Campinas.

Antonio Luís Tuckumantel, delegado do 3º distrito policial (Foto: Kleber Tomaz/G1)
O atropelamento foi gravado por câmeras de segurança de imóveis vizinhos à via. As imagens foram anexadas aos dois inquéritos policiais contra Kleber. Segundo o delegado Antonio Luis Tuckumantel, titular do 3º Distrito Policial, na Santa Ifigênia, Atalla foi "imprudente", apesar de as imagens mostrarem, no entendimento do policial, que o motorista fez uma conversão permitida, que parou o automóvel após o acidente e que ainda prestou socorro.

“Isso não serve de justificativa. Na faixa de pedestre a preferencial é do pedestre. O motorista estava errado. Foi imprudente e estava com uma velocidade que era muito rápida”, afirmou o delegado Tuckumantel, nesta quarta-feira (13). O laudo da Polícia Técnico-Científica sobre a velocidade do carro não foi finalizado.

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) foi procurada pelo G1 na manhã desta quinta-feira (14) para informar quais são as restrições sobre as conversões no cruzamento da Avenida Duque de Caxias com a Rua Barão de Campinas. A assessoria de imprensa ficou de responder ao pedido da reportagem.

Em sua defesa, Atalla registrou um vídeo de 13 minutos no qual tenta reproduzir como ocorreu o acidente. A gravação foi postada na web. Ele filma a placa de trânsito, que mostra, naquele ponto da avenida, restrições à conversão da pista da esquerda para a pista da direita. Mas não há sinalização proibindo a mudança da direita para a esquerda, como fez o motorista no dia em que atropelou o pedestre.

"Pelo fato de estar chovendo demais, demais, ele atravessou a rua no maior 'pau'. [...] A hora que eu percebi, ele tinha me atropelado", diz o comerciante no vídeo. "Acabou com a minha vida esse episódio. Acabou com a vida da família do senhor Antônio, só que eu não tive culpa. O meu remorso é muito grande".
Na filmagem, Atalla fala que vai prestar esclarecimentos pelos seus vídeos suspeitos de apologia a crimes de trânsito. "Em momento algum eu quis desrespeitar as autoridades", afirma nas imagens.

Vídeos na web
Sob o apelido de Kle621, Atalla, que mantém um comércio de peças para motocicletas, já postou centenas de vídeos no site de compartilhamento YouTube. Em sua Hornet 600, ele trafega em alta velocidade, faz ultrapassagens proibidas, dirige na contramão, e avança o sinal vermelho.

Para gravar suas irregularidades, Atalla usa uma câmera presa ao capacete. Os registros na internet foram tema de uma reportagem do G1, publicada em 17 de setembro do ano passado.  “Sei que é ilegal o que faço. Não recomendo para quem me assiste”, afirmou o motocicista à equipe de reportagem naquela ocasião.

Atalla chegou a justificar os crimes de trânsito que cometia em nome da audiência. “Estou fazendo assim porque é uma maneira de me comunicar com a molecada. Se fizer um vídeo a 30 km/h, atrás dos carros, ninguém vai querer assistir. Tem que ter um sensacionalismo.”

Como o comerciante explicou à época, os vídeos faziam parte de uma estratégida de marketing: neles ele indica seu site de venda de escapamentos e peças de moto. Procurada em 2012, a Polícia Militar havia informado que, apesar de as infrações estarem registradas em vídeo, o poder público nada podia fazer. As multas só seriam aplicadas se fossem flagradas por um agente ou radar.

Contravenção
Mas a conduta nos vídeos das infrações cometidas por Atalla foi analisada recentemente pela Polícia Civil. “Ele tem um comportamento contraventor como forma de marketing pessoal e comercial de fazer propaganda da sua loja virtual”, escreveu o delegado assistente do 3º DP, Arariboia Fusita Tavares, na portaria de 8 de fevereiro deste ano. O documento determinou a instauração do inquérito para apurar a suspeita de prática de apologia ao crime praticada pelo comericante, por conta dos vídeos postados por ele no YouTube.

“Utiliza-se das publicações para se auto promover, assim como alavancar as vendas em sua empresa, às custas de provocações contra a administração pública, cooptando fãs e seguidores de seu comportamento irresponsável, conforme se depreende de simples leitura de comentários realizados nos mais de 500 vídeos publicados no site YouTube, fomentando desta forma a anarquia e estimulando outros ao cometimento de infraçoes”, informa a portaria.

De acordo com a investigação policial, Atalla “regozijando-se de sua conduta criminosa, afrontando as normas legais vigentes, com manobras extremamente perigosas” coloca “em risco desta forma a vida de pedestres e demais motoristas”.

No entendimento da autoridade policial e dos investigadores, o comerciante é suspeito de infringir três artigos do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) nos vídeos que publicou na internet: 308 (participar de competição automobilística não autorizada que cause dano a outros), 309 (dirigir sem habilitação, gerando perigo) e 311 (trafegar com velocidade incompatível).

Somadas, as penas dessas três infrações podem dar penas mínimas de um ano e meio a 4 anos de detenção, além do pagamento de multa e suspensão  da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) numa eventual condenação do infrator pela Justiça.

Cruzamento da Avenida Duque de Caxias onde o comerciante Kleber Atalla fez a mudança de pista e atingiu o pedestre (Foto: Kleber Tomaz/G1)Cruzamento da Avenida Duque de Caxias onde o comerciante Kleber Atalla fez a mudança de pista e atingiu o pedestre (Foto: Kleber Tomaz/G1)
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G1

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