sábado, 18 de maio de 2013

Roubo e furto de veículos crescem em SP e recuperação fica estagnada



Desmanches irregulares são destino de grande parte dos veículos roubados e furtados (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Com o crescimento do número de carros roubados e furtados em São Paulo entre os meses de fevereiro e março deste ano, a Polícia Civil sofre com o crônico problema da dificuldade na recuperação desses bens. Entre os dois meses citados, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), o total de veículos roubados na capital passou de 3.557 para 4.378 – alta de 23%. Já os casos de furto de veículos passaram de 3.463 para 4.201, com crescimento de 21%. O percentual de veículos recuperados, porém, não manteve o crescimento registrado nos casos de roubo e furto no estado e segue estagnado.
No primeiro trimestre de 2013, dos 22.933 veículos roubados e 27.789 furtados no estado (um total de 50.722),  foram recuperados 23.332, o equivalente a 45%. Na capital, dos 11.711 veículos roubados e 11.543 furtados (23.254 no total), 9.850 foram recuperados, o que equivale a 42%.O aumento registrado entre fevereiro e março de 2013 nos casos de roubo foi maior do que os casos registrados no mesmo período de 2012 e de 2011 - quando os índices foram de 18% e 10%, respectivamente (em 2012, os roubos passaram de 3.604 para 4.275, e, em 2011, de 3.013 para 3.343). Já entre os casos de furto de veículos, o aumento em 2013 (21%) foi menor do que em 2012 (quando houve crescimento de 26% dos casos - passando de 3.470 para 4.378). Em 2011, o aumento havia sido de cerca de 2%, de 3.560 para 3.660.
No último trimestre de 2012, o percentual de recuperação no estado havia sido um pouco mais elevado. Dos 21.681 veículos roubados e 26.142 furtados no estado - um total de 47.823 -, 22.055 foram recuperados, o equivalente a 46%. Na capital, o índice se manteve estável. Dos 10.653 veículos roubados e 9.696 furtados - um total de 20.349 - 8.841 foram recuperados, o equivalente a 43%, segundo dados da SSP. O levantamento foi feito peloG1, com base nos dados divulgados pela SSP.
“Nossa ação nas ruas ocorre todos os dias, mas uma grande dificuldade para nós é justamente a sazonalidade dos crimes, e a localização aleatória dos casos. É uma loteria, imprevisível, e nossas equipes saem para encontrar uma agulha em um palheiro”, diz o delegado Luís Roberto Faria Hellmeister, titular da 1ª Divisão de Investigações sobre Furto e Roubos de Veículos e Cargas (Divecar), no Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic).
Gráfico roubo e furto de carros na capital até março de 2013 (Foto: Arte/G1)
O percentual de recuperação se repete também no registro das seguradoras de veículos. Segundo balanço, foram roubados e furtados, no estado de São Paulo, 11.699 veículos apenas em fevereiro deste ano.
Desse total, 5.611 foram recuperados, o que equivale a 48%. O dado é o mais recente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg). E o percentual registrado em São Paulo, ainda segundo o índice da CNseg, é próximo do dado nacional para o mesmo período, quando dos 24.688 veículos roubados e furtados, 12.395 foram recuperados (50%).
São Paulo é, segundo o levantamento das seguradoras, o estado em que mais se roubam e furtam veículos, com mais de 47% das ocorrências do país. Em ambos os levantamentos, tanto da SSP quanto da CNseg, o termo “veículo” não se refere apenas a carros e motocicletas, mas a todos os veículos, incluindo, por exemplo, caminhões e guinchos. Os dados da SSP levam em conta os registros de Boletins de Ocorrência. Já o banco de dados das seguradoras inclui informações do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
Veículos roubados ou furtados são escondidos em locais de difícil acesso (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
“A quantidade de carros roubados é quase sempre proporcional ao tamanho da frota de carros que rodam em determinada cidade ou estado, porém ocorrem variações nesses percentuais de acordo com a facilidade na revenda das peças. Ter a maior frota de carros do país faz com que São Paulo seja alvo da ação de criminosos, que alimentam o mercado paralelo com peças e acessórios roubados”, explica Bruno Mazetto, corretor da Mazetto Seguros.

O percentual relativamente baixo de veículos recuperados, apesar do esforço de seguradoras e da Polícia Civil, ocorre devido à facilidade de desmanche de um carro ou moto, por exemplo, e a dificuldade de localização desses veículos no período em que são abandonados para serem “esfriados”. Esse processo do chamado “esfriamento” de um veículo roubado ocorre, segundo a polícia, para que o criminoso se certifique que não está sendo rastreado.

“Eles geralmente esperam um ou dois dias para ver se o veículo não está sendo rastreado. Neste caso, as motos e carros são levados a pontos isolados, com pouca circulação de pessoas e difícil acesso”, explica Hellmeister. De acordo com o delegado, cerca de 80% dos veículos roubados são usados como fonte de renda, seja para revenda ou desmanche. “Uma minoria é usada para a prática de outros delitos.”
Carros podem ser totalmente desmanchados em até 10 minutos, diz delegado (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Segundo a polícia, é possível desmanchar um carro inteiro em cerca de dez minutos, o que torna a localização do veículo ainda mais complicada. Não são mantidos, por exemplo, chassis numerados ou peças que possuem a identificação do veículo. “Quanto maior a rapidez no desmanche, menor a probabilidade do veículo ser encontrado. Os criminosos sabem, por exemplo, que nos modelos de carros que são mais visados para roubo, aqueles que têm maior facilidade na venda das peças, são instalados rastreadores pelas companhias de seguros e muitas vezes o motorista é feito refém até que o carro esteja totalmente desmanchado”, conta Mazetto.
E são justamente os veículos populares os mais visados pelos criminosos. “O índice de recuperação é muito baixo. Dos carros que somem, a grande maioria foi desmanchada, então não temos como recuperar esse veículo. Os carros mais visados são os que circulam em maior quantidade, os populares, porque há interesse nas peças desses carros, mas é claro que há importados furtados inclusive sob encomenda”, afirma Neival Rodrigues Freitas, diretor executivo da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).
Os veículos recuperados são geralmente encontrados em favelas, entre ruas e vielas de difícil acesso. Para chegar à solução dos casos, a polícia conta, além das investigações de quadrilhas especializadas, com denúncias anônimas. Em São Paulo, o destino de muitos dos carros roubados que nunca são achados são desmanches ilegais. “O que é mais difícil no combate ao roubo e furto de carros é que há mercado para as peças roubadas. O dito ‘bom moço’ é justamente quem movimenta esse mercado negro e adquire peças, lataria. Se não houvesse compradores, não haveria por que roubar”, destaca o delegado.
Compra de peças roubadas estimula o crime, segundo a polícia (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Crime de crescimento ‘cíclico’
Em março deste ano, a SSP registrou, na capital, 8.579 veículos roubados e furtados, da frota total de mais de 7,4 milhões, segundo o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran/SP). Em um ano, desde março de 2012, a frota de veículos aumentou todos os meses, passando de 7.241.109 para 7.412.617. Já os casos de roubos e furtos tiveram variações irregulares, entre quedas e aumentos, no mesmo período (veja gráfico acima)

“Não há períodos de maior ou menor tendência para roubos e furtos. O que ocorre no mundo do crime geralmente é bastante cíclico. Quando a ação da polícia é muito focada em um determinado delito, os ladrões costumam recuar, migram de crime, mas retomam sua atividade ao descobrir um método novo de driblar a ação policial”, diz ao G1 o delegado Hellmeister.
As ruas mais procuradas pelos criminosos para furtos são vias próximas de universidades, supermercados, baladas e hospitais. “São pontos onde o criminoso sabe que tem tempo para agir, porque o motorista em geral vai demorar para voltar”, explica o delegado. Já a relação com os roubos é, segundo Hellmeister, bastante aleatória.
Impacto no bolso
A compra e venda de peças roubadas de veículos gera impacto direto no bolso do consumidor. “Enquanto uma apólice para um veículo que é pouco visado pelos assaltantes pode custar entre 2% e 3% do valor do bem, o seguro para um carro visado pelos ladrões pode custar 10 vezes mais, dependo do perfil do motorista. Vale ressaltar que as seguradoras, além de analisarem a probabilidade de roubo do veículo, contam com outros dados para auxiliar no enquadramento e precificação da apólice, como estado civil do condutor, sexo, uso ou não de garagem na residência, trabalho e faculdade, entre outros dados, que variam de acordo com a seguradora”, afirma Mazetto.

Para se ter uma idéia do aumento de preços entre 2012 e 2013, na Mazetto Seguros, por exemplo, há apólices que sofreram aumento de até 40% se comparadas ao ano passado. “Porém, em média, o valor do seguro este ano está 20% mais caro, o que é reflexo do número de carros roubados, que não para de subir”, explica o corretor. A Federação Nacional de Seguros Gerais diz que não possui informações sobre valores de seguros.
G1

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