quarta-feira, 19 de março de 2014

Defesa de PM afirma que mulher arrastada estava viva ao ser socorrida

Cláudia Silva Ferreira foi atingida por bala perdida no Morro da Congonha, em Madureira, no Rio (Foto: Mariucha Machado/G1)
O advogado do subtenente da Polícia Militar Rodney Miguel Archanjo — um dos três presos pela morte de Claudia Silva Ferreira no Morro da Congonha, em Madureira, no Subúrbio do Rio — afirmou ao G1, na manhã desta quarta-feira (19), que a auxiliar de serviços gerais estava viva quando foi colocada no porta-malas do carro da polícia, após ser baleada na comunidade. A afirmação vai ao encontro do que disseram familiares da vítima. No caminho para o hospital, o porta-malas abriu, ela ficou presa por um pedaço de roupa ao carro, e teve parte do corpo dilacerada ao ser arrastada pelo asfalto.
“O que nós sabemos é que a viatura estava normal, sem nenhuma avaria, mas vamos aguardar a perícia. O Rodney estava no banco do carona. A porta [porta-malas] não estava trancada, estava semibaberta. As pessoas da comunidade estavam forçando para entrar na viatura para ir com ela. O que eles queriam era socorrê-la o mais rápido possível. Ela ainda estava com vida quando a colocaram na viatura", afirmou o advogado Jorge Carneiro Mendes, na porta da 29ª DP (Madureira), onde os três PMs são aguardados para prestar novo depoimento.
“Não foi no banco de trás porque havia material bélico. O local onde ela foi baleada é uma curva, não dava pra abrir as portas laterais. Isso impediu de ela ter sido socorrida no banco traseiro. Havia vários populares [moradores], alguns não queriam deixar socorrer, outros pediam pelo socorro. Não é um local que não pode ser transportado pessoa. Apesar de não ter ocorrido uma prisão, o que o policial tinha era isso. No momento de tensão, a pessoa baleada, ela perdendo sangue, [o socorro]  foi feito dessa forma”, concluiu Espínola.O advogado Marcos Espínola, que defende Alex Sandro da Silva Alves, afirmou que apesar de não se tratar de um preso e sim de uma vítima, a parte traseira do carro não pode ser considerada um local impróprio para transportar uma pessoa.
O advogado de Alex Sandro afirmou ainda que entrou com novo pedido de liberdade para o cliente no Tribunal de Justiça do Rio.
“Pedi por entender que o crime imputado a eles [descumprimento de norma pelo transporte da vítima no compartimento traseiro do veículo] tem pena de três meses a um ano. Não entendo que há necessidade de manutenção da prisão. Mesmo que eles fossem condenados, não seriam levados ao cárcere. Além disso, são réus primários. Eu nem vou dizer que acredito na inocência, não há negativa de autoria. Mas eu acredito na ausência de dolo seja a isenção de pena. Eles serão processados, mas entendo que no final serão absolvidos”, concluiu.
Os subtenentes Adir Serrano Machado e Rodney Miguel Arcanjo e o sargento Alex Sandro da Silva Alves estão presos em Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste, e também são investigados pela Corregedoria da PM. Na terça-feira (18), eles tiveram pedido de liberdade negado pela Justiça do Rio.
'Rua estreita', afirma PM
O subtenente da Polícia Militar Rodney Miguel Archanjo declarou no auto da prisão que colocou a vítima no porta-malas do carro “porque a rua era estreita” e que devido ao grande número de pessoas que se encontravam ao redor do carro da polícia, “não foi possível abrir as portas o suficiente para que se colocasse a auxiliar de serviços no banco traseiro”. A GloboNews teve acesso ao documento na manhã desta quarta-feira (19).

A versão do subtenente Rodney é diferente do que afirma o advogado Marcos Espínola, que faz a defesa do policial Alex Sandro da Silva Alves. O advogado disse a auxiliar de serviços gerais foi colocada na parte de trás do carro porque havia armas no banco traseiro. Espínola afirmou ainda que a morte de Claudia foi um acidente e que o objetivo dos PMs era tentar salvar a moradora.
Cláudia da Silva Ferreira foi arrastada em carro da polícia militar do Rio de Janeiro (Foto: Mariucha Machado/G1)
Moradores cercaram carro, diz policial
No documento, Rodney afirma que muitos moradores estavam alterados e tentavam entrar no veículo da polícia, dificultando o socorro. Em outro trecho, ele declarou que pôde observar que o  subtenente Adir Serrano Machado ajudado por outro PM conseguiu pegar Claudia no colo e colocá-la no compartimento de presos do carro.

Rodney declarou ainda que quando os policiais chegaram à comunidade, se depararam com pessoas em volta de outros oficiais. Ele afirmou que viu os moradores revoltados com o desfecho da operação em que a moradora foi baleada.
O tenente Rodrigo Boaventura, que não está entre os detidos, afirmou – também no auto da prisão – que a equipe da Polícia Militar foi recebida no Morro da Congonha por disparos de armas de fogo.
Segundo o sargento da PM Alex Sandro da Silva Alves, foi Boaventura quem pediu que os policiais socorressem a vítima. De acordo com ele, o tenente gritava "socorre, bota na viatura e socorre".
O subtenente Adir Serrano Machado relatou como foi o socorro à vítima e afirmou que o cabo Meireles foi quem verificou que o porta-malas estava devidamente trancado e que quando o compartimento abriu, durante o trajeto, determinou que o motorista parasse e colocou Claudia novamente no carro.
Arrastada por 350 metros
Cláudia Silva Ferreira, que teve o corpo arrastado por 350 metros por um carro da Polícia Militar no domingo (16) no Morro da Congonha, em Madureira, no Subúrbio do Rio, foi morta por um disparo de arma de fogo, de acordo com laudo do Instituto Médico-Legal (IML).

Após ser baleada, Claudia foi colocada por PMs no porta-malas para ser levada para o Hospital Carlos Chagas, onde chegou sem vida, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. No meio do caminho, no entanto, o porta-malas abriu, ela caiu, sendo arrastada pelo asfalto.
O atestado de óbito, no entanto, informa que ela foi morta por conta da "laceração cardíaca e pulmonar de ferimento transfixante do tórax por ação perfurocortante", ou seja, devido ao tiro. Segundo o Instituto Médico Legal (IML), "perícias complementares" serão realizadas.
De acordo com PM, a tranca do porta-malas não tinha defeito — o que pode agravar a punição dos três policiais que participaram do "socorro" frustrado.
Cabral recebe familiares
Familiares de Claudia foram recebidos pelo governador Sérgio Cabral no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, Zona Sul do Rio, na manhã desta quarta-feira (19). Na terça (18), Cabral disse esperar a expulsão dos policiais envolvidos no resgate da auxiliar de serviços gerais.

"O mínimo que se espera dos três policiais presos é que sejam expulsos da corporação", disse o governador, durante cerimônia de início de operação de um novo trem da SuperVia. Ele afirmou, entretanto, que deve ser observado o direito de defesa dos policiais.
G1

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