sábado, 18 de fevereiro de 2012

Ben Kingsley fala sobre seu papel de duro patriarca de 'Hugo Cabret'


O novo filme de Martin Scorsese“A invenção de Hugo Cabret”, que chegou nesta sexta (17) aos cinemas brasileiros, é um filme família, liberado para todas as idades, e o primeiro filmado em 3D pelo célebre diretor . O grande elenco reúne Jude Law (“Inteligência Artifical”, “Sherlock Holmes”), Sacha Baron Cohen (“Borat”), Christopher Lee (“Senhor dos Anéis”) e Ben Kingsley. Mas o verniz de filme infantil esconde uma verdadeira homenagem ao cinema, cujo ápice está no personagem George Méliès, baseado no cineasta homônimo que foi um dos pais do cinema e dos efeitos especiais, e é interpretado por Ben Kingsley.
Em entrevista ao G1, o ator famoso por sua interpretação de Ghandi (que levou Oscar em 1983) conta como foi trabalhar mais uma vez com Scorsese.
Ben Kingsley (Foto: Divulgação)Ben Kingsley em cena de "A invenção de Hugo Cabret" (Foto: Divulgação)
“Assisti a vários filmes de Meliès. Scorsese me deu uma caixa com filmes do cineasta. Honestamente, ele era genial. Ele foi pioneiro em produzir filmes com poucos recursos no inicio do século 20.”, diz o ator. “Eu tive que simpatizar com a causa dele, um cineasta que criou tudo sozinho e depois perdeu tudo por conta da Primeira Guerra Mundial. A guerra destruiu tudo o que ele tinha”, diz. “Eu tive que achar uma luz para então procurar pela escuridão. Nas cenas em que Meliès queima seu material [roupas, negativos], eu queria sentir de fato a sua perda”, diz, acrescentando que teve queimaduras na face durante a gravação da sequência.
Ben Kingsley (Foto: AP)O ator ao lado de Martin Scorsese durante o
Bafta, em Londres (Foto: AP)
Hugo é seu primeiro filme com crianças após Oliver Twist (2005). Kingsley diz que teve de manter a figura do austero patriarca mesmo fora do set. “Foi um prazer fazer o papel de um figura paterna. Eu não tive a figura de um patriarca na minha infância. Meu pai era muito distante, portanto tive essa lacuna; tive que reinventar o meu lado paterno e ser o meu próprio ‘pai’ para suprir”. “Se eu tenho a chance de interpretar um patriarca é sempre uma felicidade”, completa.
No set, a austeridade emprestada ao personagem por ele não sumia no “corta”. “Eu era bem duro no set, pois tinha de ser um padrasto forte para Isabelle (Chloë Moretz)”, diz. “Você não pode sentimentalizar esses papéis, honestamente. Não pode. Se quer trazer o público para aquele sentimento de redenção, você tem que interpretar o personagem partindo do seu lado mais sombrio”, diz ele.
Os jovens atores Asa Butterfield e Chloë Moretz, de apenas 14 anos, mostraram ter um pouco de medo do ator britânico. Mas ele rebate; “Se eu digo a Asa para ir embora, eu tenho que dizer com certeza. Eu tenho que entrar naquele momento trágico. Construímos uma relação de mútuo respeito”, diz. Quando perguntado se as crianças deixam de ser crianças no set para se tornarem colegas de profissão, ele afirma: “sim, somos iguais. Estamos no mesmo nível”.
O filme "A Invenção de Hugo Cabret" foi indicado a onze Oscars este ano. No longa, Hugo é um órfão de 12 anos que vive secretamente em uma estação de trem de Paris consertando relógios. Quando encontra o robô deixado por seu pai (Jude Law), Hugo começa uma busca pela chave (em formato de coração), que fará o robô funcionar novamente, trazendo uma mensagem especial: uma mensagem que acaba o conectando com o Senhor Ranzinza, atormentado pelo passado - o cineasta francês Georges Méliès.
“Eu sou puxado pelo futuro, em vez de ser empurrado pelo passado“, diz o ator quando perguntado se tem medo de ser esquecido como foi o cineasta francês. “A vida tem sido muito generosa comigo”, declara o ator, que é casado com a brasileira Daniela Lavender. “Se houvesse um documentário sobre minha vida, seria necessário somente juntar pedaços dos meus filmes para visualizar tudo”.
Indagado por que acha que George Méliès e seus filmes foram esquecidos, ele é rápido na resposta. “Os filmes de Georges eram muito ingênuos e inocentes. Após a guerra, a Europa perdeu a inocência. Por isso eu acho que seus filmes perderam a relevância. O mundo não era mais uma caixa de mágicas, mas sim um lugar cinza. Havia a necessidade de filmes que refletissem aquela dura realidade”, conclui.
Sobre a recente onda de filmes que voltam ao passado ("Sete dias com Marilyn" e "O artista", por exemplo), o ator comenta que “como o cinema esta indo para a direção da tecnologia fantástica, acho que há uma curiosidade dos cineastas de ir de volta às raizes para se perguntar como tudo começou”.

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