domingo, 4 de março de 2012

Atriz brasileira estrela série premiada nos EUA que agora estreia no Brasil


Que tipo de atração pode exercer no público brasileiro uma série de tevê como “Homeland”? Ela trata de um soldado dos EUA que regressa ao lar depois de oito anos desaparecido no Iraque – desconfiava-se que estivesse morto, inclusive. Um programa assim terá algum apelo junto à audiência de um país que não convive no cotidiano com a hipótese de uma ocorrência terrorista? Na opinião da atriz Morena Baccarin, sim: terá.
Morena Baccarin fala sobre o seriado 'Homeland' (Foto: Cauê Muraro/G1)Morena Baccarin esteve em um hotel em São Paulo para divulgar 'Homeland' (Foto: Cauê Muraro/G1)
Intérprete da esposa do militar em questão, Morena partilha a impressão de que assuntos como “terrorismo” e “11 de setembro” dizem respeito “ao mundo inteiro”. Em um encontro com o G1 na última semana, em um hotel em São Paulo (SP), ela observou também que “Homeland” não aborda exclusivamente controvérsias entre nações ou religiões: “Fala de relações humanas [o casal tem dois filhos], de [como] lidar com uma pessoa que foi para a guerra”.
Morena não foi escolhida ao acaso para vir ao Brasil divulgar o seriado, que acaba de ganhar o do Globo de Ouro por sua primeira inaugural, já exibida lá fora. Por aqui, estreia neste domingo, no canal a cabo FX, às 22h. A atriz nasceu no Rio de Janeiro, em 1979 – mudou-se com os pais para os EUA quando era criança. Até aqui, seu papel mais marcante tinha sido o de uma alienígena, Anna, da série “V” (2009-2011). Era um personagem bastante distinto da Jessica de “Homeland”, uma mulher que já tinha conhecido um novo namorado quando, inesperadamente, o marido retornou.
Embora integre o elenco central, a brasileira não é a protagonista: a função cabe a Claire Danes, que levou o Globo de Ouro pelo trabalho. Destacou-se como a agente da CIA que sofre de transtorno bipolar e está muito desconfiada das intenções do soldado que regressa como herói nacional. O rosto de Morena não figura agora no cartaz promocional do seriado – ao contrário do que acontecia em “V”. Mas ela afirma, sempre em português, não se incomodar ou pensar nisso. Leia, a seguir, trechos da conversa.
G1 – Na época do lançamento de “V”, você dizia que estava surpresa com sua popularidade aqui no Brasil, com o fato de fãs terem lhe recebido no aeroporto, com fotos, autógrafos. E agora, como foi?
Morena – Mas ainda é surpreende, ainda é uma coisa com que eu não me acostumo, que é estar no Brasil e as pessoas me reconhecerem. Eu estava no metrô outro dia, no Rio, e tinha um menino que ficava olhando. Aí, ele sentou mais perto e tirou o telefone [do bolso]. Ficava olhando alguma coisa no telefone – para ver se era eu mesmo! (risos) Aí, ele disse: “É você, aqui?!” [apontando para a tela do telefone]. Eu acho engraçado, porque realmente eles não esperam que eu vou estar no Brasil...
G1 – Mas essa fama é sempre por causa do “V”, não?
Morena –
 Não. Aliás, está acontecendo mais por causa do “Homeland” também.
G1 – Sua personagem em "V" era má. Já em “Homeland”, você vive uma vítima, existe outro tipo de conflito. Como foi essa preparação?
Morena –
 O gostoso de ser ator é poder mudar e fazer vários papéis diferentes, né? E eu gostei tanto do roteiro [de “Homeland”], que conectei imediatamente com esse personagem. E ela [Jessica] é uma pessoa que é, como se diz, vítima da situação – mas ela não se faz de vítima, não fica chorando. É ele [o marido] que fica chorando no canto do quarto. Ela vai trabalhar, tem os filhos para sustentar, e está tentando se conectar com ele sempre, ajudar. É uma pessoa muito forte que consegue fazer isso.
Como a Anna [de “V”], aliás, que também é muito forte, mas a Anna pelo lado mal (risos). A Jessica tem o conflito de se apaixonar por outro homem e de o marido voltar depois de ela achar que ele está morto. Ele volta um homem mudado, com trauma, que não conecta com os filhos nem com a mulher...
G1 – Você chegou a encontrar alguém que passou essa situação?
Morena –
 Eu já conversei com algumas pessoas... E olhei muito na internet, os grupos de suportes para as mulheres que são casadas com militares.
G1 – Fez contato com alguma delas?
Morena –
 Não, não fiz contato pessoalmente.
G1 – Alguma história marcou mais você?
Morena –
 Aprendi muitas coisas. Primeiro, uma coisa que até a gente usou no programa: elas não mudam os móveis [de lugar], não mudam nada da casa, deixam tudo igual, para quando o cara voltar, ele não sentir que perdeu uma fase da vida, uma fase da família.
G1 – A que você atribui a boa recepção que a série tem, tanto pela audiência quanto pela crítica. Algo a ver com a temática mesmo?
Morena –
 São várias coisas. A temática é importante e também interessante. A gente faz umas perguntas meio difíceis, do herói de repente não ser o cara do bem. E também acho que é um programa muito bem escrito. Sempre existe um gancho no final de cada capítulo. 
G1 – Os personagens centrais de “Homeland” são ambíguos, e ao mesmo tempo o tema da série é muito ligado ao cotidiano recente dos EUA. Acha que algo dessa ambiguidade se perde para o público brasileiro que vai assistir à série e que não lida no dia a dia com essa realidade?
Morena –
 Eu acho que não perde... É uma coisa que o americano tem de lidar toda hora, mas eu acho que o mundo tem de lidar com isso, com esse esquema de medo, de espionagem, de terrorismo...
Não é só o terrorismo de Al-Qaeda contra os EUA, é o mundo inteiro, realmente. Por exemplo, no Brasil a gente vive muito com medo de ser assaltado, de acontecer um sequestro, alguma coisa assim. É a realidade de vida em muitos países, pode ser na forma de um assalto ou uma bomba no metrô. E também o nosso programa não fala só disso. Fala de família, do núcleo da família, de relações humanas, de [como] lidar com uma pessoa que foi para a guerra – e vários países do mundo estão lidando com isso. E tem esse tema da Claire [Danes], de o papel dela ser bipolar. Essa mulher que se sente culpada, porque aconteceu um ataque e ela não viu. Muita gente não fala disso, que tem profissionais que trabalham e têm essa doença.
G1 – Acredita que uma protagonista bipolar atrai o público?
Morena –
 Com certeza. Acho que é uma coisa em que as pessoas estão interessadas. É um gancho do programa que é interessante: uma mulher que tem paranoia, que é bipolar, mas que está acertando numa coisa. E as pessoas [os outros personagens] não acreditam nela.
G1 – Mudando de assunto, no último domingo teve a entrega do Oscar. Você assistiu?
Morena –
 Não, não assisti, porque eu estava curtindo a vida em Paraty (risos).
G1 – Vai sempre para lá?
Morena –
 Não, eu sou do Rio, fui só para conhecer.
G1 – Pergunto sobre o Oscar porque muita gente diz que a “vida inteligente” migrou do cinema para a tevê. Concorda?
Morena –
 Tem muitas coisas ótimas na televisão, que são superiores a roteiros de cinema. Mas também tem filmes muito bons que não dá para fazer na televisão, porque não tem como esticar a história... Eu ainda não vi “O artista”, é o único [dentre os indicados ao Oscar de melhor filme] que não consegui ver até agora. Mas vi todos os outros, e tem uns filmes muito legais.
G1 – Dentre esses todos, tem o “Tão forte e tão perto”...
Morena –
 É muito bonito.
G1 – Lembrei dele porque você falava que “Homeland” é também sobre família, e "Tão forte e tão perto" – assim como o livro em que ele se inspira – mostra os efeitos do 11 de setembro na vida de uma família, com o olhar de um menino de nove anos. Na época do lançamento, em 2005, o livro recebeu críticas porque talvez fosse muito cedo para falar deste tema. O que pensa disso?
Morena –
 Eu acho que agora é a realidade da nossa história. Passaram dez, 11 anos, e marcou a vida de muita gente, no mundo inteiro, que ainda está sentido a repercussão disso. É uma coisa que não tem como ignorar. Se você vai escrever um roteiro que é baseado em 2005, então não tem como não usar [esse tema]. É parte da história dos EUA. E do mundo, acho.
G1 – Mas agora parece que o assunto já não é tão "condenável".
Morena –
 Acho que depende do jeito que a história [o roteiro] é escrita. Se você for fazer o relatório de uma coisa focando muito no prédio, no que aconteceu, de repente é uma coisa muito forte. Mas o que eu achei interessante no filme é que é a vida de um menino, de como ele lidou com a morte do pai, a culpa que ele sentiu... O filme é sobre aquilo [o 11 de setembro] mas também não é: ele é sobre a família.
G1 – Numa entrevista em 2010, para o Jô Soares, você dizia que era mais engraçada em inglês do que em português.
Morena –
 É verdade (risos)...
G1 – Você é bastante americana, mas ao mesmo tempo talvez tenha um entendimento melhor que um americano teria sobre esse papel do estrangeiro, a ideia de que o estrangeiro pode representar uma ameaça. Ao fazer essa série, sua perspectiva sobre o isso mudou?
Morena –
 Eu achei interessante... Mas não é que o estrangeiro é ameaça. É uma coisa com que a gente tem que lidar por causa desse lance de fé fanática. O terrorismo existe por isso. E também por questões políticas. É menos a ver com religião, com cultura, e mais a ver com fanatismo, de acreditar demais nessa coisa... Sendo brasileira, não afetou muito esse personagem. Eu trago quem eu sou para o personagem, mas não afetou...
G1 – O que você traz para o personagem?
Morena –
 Meu corpo – sei lá, não sei (risos)...
G1 – Além das obviedades, quero dizer.
Morena –
 É difícil falar sobre isso, porque sempre acho que estou vestindo outra pessoa, que não sou eu. Porque acho mais fácil interpretar quando você não está tão vulnerável, quando não é você. Mas tem partes de mim em todos os personagens. Ela é uma pessoa forte, que fez o possível para proteger a família. É uma coisa que eu entendo.
G1 – Como é ter menos tempo de tela, talvez menos cenas, do que você tinha em “V”, quando você era a protagonista?
Morena –
 Olha, eu não penso muito nisso. É um programa que eu amo, a história é muito interessante, sou parte dessa história. E o resto é fora do meu controle.
G1 – O que você pensa a respeito da possibilidade de trabalhar no Brasil?
Morena –
 Eu penso que seria uma maravilha, só que tem que encaixar direitinho com a agenda...
G1 – Uma novela seria inviável, se você já estivesse comprometida com alguma coisa lá fora. Filmes no Brasil, talvez?
Morena –
 Eu adoraria.
G1 – Tem assistido a filmes brasileiros?
Morena –
 Tenho, bastante. Adoro.

G1 – Tem algum filme de que você gostou mais?
Morena –
 Olha, “Tropa de elite” eu amei. Eu adoro o Wagner Moura, acho ele supertalentoso, muito bom ator. Ele fez um filme “Elysium” [do mesmo diretor de “Distrito 9”, rodado fora do Brasil]...
G1 – Agora parece existir mais espaço para atores brasileiros nos EUA. Tem o Wagner Moura, o Rodrigo Santoro...
Morena –
 E eu... (risos)

“Homeland”: 
Quando: aos domingos (estreia em 4/3), às 22h, no FX.
 


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