sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Deixamos a indústria escolher o que vamos comer, afirma Pollan na Flip

O escritor norte-americano especializado em comida Michael Pollan (Foto: Flavio Moraes/G1)
Quem diria que uma mesa da Flip discutiria largamente um método diferente de criar galinhas e vacas? É o que acontece quando chega um tempo em que pensar sobre o que comemos alcança um papel crucial no mundo. O norte-americano Michael Pollan tem se dedicado há vários anos a investigar a cadeia da produção de alimentos, como eles são consumidos e quais são os efeitos sobre nossos corpos. Ele não tem uma visão otimista sobre o estado atual dessa área, mas propõe de um jeito leve algumas maneiras de reverter a situação
G1 transmitirá ao vivo todas as mesas da Flip 2014, tanto com áudio traduzido (se a palestra não for em português) quanto com áudio original. Veja a programação até domingo ao final desta nota.
Pollan é autor de sete livros, entre eles o best-seller "O dilema do onívoro" (2006) e o novo "Cozinhar - Uma história natural da transformação".A mesa desta sexta-feira (1º), a mais aplaudida até o momento na 12ª edição da Festa Literária de Paraty e que por motivos de saúde teve a mediadora substituída pelo curador Paulo Werneck, discorreu sobre os problemas de deixar para a indústria as nossas escolhas sobre o que comemos, o desconhecimento do que é ingerido, a importância do cada vez mais raro hábito de comer em família e o clima de ansiedade quando pensamos se temos ou não uma boa alimentação.
"Setenta anos atrás meu trabalho seria irrelevante porque sabíamos de onde vinha a nossa comida. Mas hoje não sabemos com exatidão o que há no McDonald's", afirma ele.
Mas justamente sobre não pensar a respeito do que se constitui cada prato consumido que Pollan chama a responsabilidade para nós mesmos: "Nós somos cúmplices desse cenário, com as escolhas que fazemos. Estamos terceirizando a grandes corporações as nossas escolhas sobre a nossa alimentação".
Examinar o processo de fabricação dos alimentos hoje em dia, que passa por elementos transgênicos, levou Pollan a conclusões sombrias quanto aos efeitos sobre a nossa saúde e o solo em que raízes são plantadas e o gado pasta, para dizer algumas pontas da cadeia de alimentação. "A busca incessante por ingredientes baratos levou a essa situação", diz o escritor.
Ele é um ferrenho defensor do pequeno agricultor e cita a experiência que teve com um fazendeiro do estado norte-americano da Virgínia, que criava seis tipos diferentes de animais juntos. O pasto tinha um intrincado revezamento que resultava em solo menos pobres e mais produtividade. O conceito da "fazenda de muitas faces" de Joel Salatin foi apresentado no livro "O dilema do onívoro".
Pollan defende uma atitude relaxada em relação ao que comemos, já que ansiedade para fazer o certo na alimentação pode fazer mal, claro. Ele resume o certo em sete palavras: "Coma comida. Não em excesso. Plantas principalmente".
Além de chamar a atenção para o ato de cozinhar e a retomada do prazer fora da comida pronta, Pollan afirma que as refeições em família são um ritual em extinção e isso é ruim:
"Refeição em família é assunto complicado, mas é importante. Nela você aprende a esperar, a ouvir e a discutir as notícias e a também a brigar, com os chutes por baixo da mesa. Dividir comida está em perigo e nós devemos fazer algo. Por isso que eu digo que comer é um ato político."
Ele elogia a gastronomia brasileira. Diz que adorou feijoada, mas que apreciou mas a moqueca. Gostou de acarajé e declarou que "cachaça é comida" em uma cidade famosa por seus aguardentes.
"Vocês têm uma grande cultura gastronômica e devem lutar para defendê-la. Porque querem tomá-la."
Veja o que ainda vem por aí na programação da Flip 2014:
1º de agosto – sexta-feira
15h – "Marcados", com Claudia Andujar e Davi Kopenawa; mediação: Eliane Brum

17h15 –  "Livre como um táxi", com Antonio Prata e Mohsin Hamid; mediação: Teté Ribeiro
19h30 – "Encontro com Andrew Solomon"; mediação: Otávio Frias Filho
21h30 – "2x Brasil", com Cacá Diegues e Edu Lobo; mediação: João Gabriel de Lima
2 de agosto – sábado
10h – "Liberdade, liberdade", com Charles Ferguson e Glenn Greenwald; mediação: Lúcia Guimarães

12h – "Memórias do cárcere: 50 anos do golpe", com Bernardo Kucinski, Marcelo Rubens Paiva e Persio Arida; mediação: Lilia M. Schwarcz
15h – "A verdadeira história do Paraíso", com Etgar Keret e Juan Villoro; mediação: Ángel Gurría-Quintana
17h15 – "Tristes trópicos", com Beto Ricardo e Eduardo Viveiros de Castro; mediação: Eliane Brum
19h30 – "Encontro com Jhumpa Lahiri"; mediação: Ángel Gurría-Quintana
21h30 – "Narradores do poder", com David Carr e Graciela Mochkofsky; mediação: João Gabriel de Lima
3 de agosto – domingo
10h – "Ouvir estrelas", com Marcelo Gleiser e Paulo Varella; mediação: Bernardo Esteves

12h – "Romance em dois atos", com Daniel Alarcón e Fernanda Torres; mediação: Ángel Gurría-Quintana
14h – "Os sentidos da paixão", com Almeida Faria e Jorge Edwards; mediação: Paulo Roberto Pires
16h – "Livros de cabeceira" – Convidados da Flip leem e comentam trechos de seus autores favoritos; com: Andrew Solomon, Etgar Keret, Graciela Mochkofsky, Joël Dicker, Juan Villoro, Eduardo Viveiros de Castro, Fernanda Torres e Marcelo Rubens Paiva.
G1

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