sábado, 12 de novembro de 2011

Em Belém, saúde e saneamento preocupam eleitores no plebiscito

No mercado público Ver-o-Peso e na estação das Docas, tradicionais cartões postais de Belém, amigos se reúnem para discutir o futuro do Pará caso o “sim” ao desmembramento do estado ganhe no plebiscito marcado para 11 de dezembro.

Se Tapajós e Carajás forem criados, Belém continuará a ser a capital, mas agora do novo Pará, estado que nasce com uma área de apenas de 17% do total no Pará atual.

G1 percorreu o Pará por dez dias para ouvir o que o povo pensa sobre a separação. A maioria das pessoas com quem a reportagem do G1 conversou na capital paraense é contra a separação. Adesivos alusivos à campanha do “não” ganham as ruas e o temor de muitos é que o estado, que já é pobre (a renda média do trabalhador é de R$ 1.369, segundo o Idesp - Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará), perca com a divisão.

“Eu acho que a separação só vai prejudicar o Pará todo. Já temos tudo precário, se dividir as riquezas, todos vão ficar mais pobres”, diz o guarda municipal Marcos Couto. Já a dona de casa Maria Teodora se queixa que o estado perderá seus recursos. “Ao invés de dividir, a única coisa que nos resta é nos unirmos. Acho que tem muita gente no interior do Pará que veio de outro estado e nem vota aqui. Eu sou contra separar”, diz ela.
Já no mercado público Ver-o-Peso, o tema é frequente em rodas de vendedores de hortaliças e frutas. "Eu acho que não tem que separar, não. O povo aqui de Belém vai perder toda a riqueza daquele lado, do sudeste do estado, que é cheio de minérios", afirma Roberto Gomes Menezes. O vendedor Sebastião Alves Filho concorda. "Eu vou votar no 'não' e toda a minha família, também. Se rachar o Pará no meio, não vai dar certo. Vamos ficar mais pobres ainda", diz.
esgoto e falta de saneamento (Foto: Tahiane Stochero/G1)Falta de saneamento é uma das reclamações mais 
frequentes em Belém (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Quando a pergunta é sobre os principais problemas de Belém, a resposta frequente é: a falta de saneamento. Dados do Censo 2010 apontam que apenas 37% dos domicílios da cidade possuem rede de esgoto. No Brasil, a média é de 55%.

Já a ONG Trata Brasil analisou os serviços de saneamento prestados em 81 cidades brasileiras, com mais de 300 mil habitantes, constando que Belém e Ananindeua, na região metropolitana, estão entre as 10 piores do país.

“Este esgoto aqui não tem solução. A gente mora aqui faz 20 anos, mas, apesar do que se vê, a situação melhorou. Antes não tinha água boa nem para beber”, diz a vendedora Joana Aparecida de Oliveira, que vive em área ocupada na Vila da Barca, próximo ao Rio Guamá. “Sobre a divisão do Pará, eu ouvi falar, mas não sei se vou votar. Ainda tenho que me informar sobre isso”, afirma.
área invadida mulher reclama de falta de saneamento e saúde (Foto: Tahiane Stochero/G1)Em área invadida, moradoras reclamam da falta de
saneamento e de saúde (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Próximo às regiões de Guamá e Terra Firme, de alto índice de violência em Belém, a dona de casa Elizabete de Souza, que vive em uma área invadida, desabafa: “Aqui falta tudo. Tem esgoto correndo no rio. Também tem problema na saúde. Atendimento aqui em Belém não existe. Tenho um filho deficiente e fico horas em postos de saúde e hospitais em busca de uma consulta”.
Sobre as reclamações em relação ao saneamento de Belém, a prefeitura informou que obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevêem investimentos de R$ 935 milhões na área e também em habitação. Em relação ao Conjunto Habitacional Vila da Barca, foram iniciados em 2005 com a construção de 136 apartamentos e que os moradores das palafitas estão sendo indenizados de acordo com as características dos imóveis e remanejados para locais adequados.
Outro grande foco de reclamações da população de Belém é com a situação da saúde. Recentes casos revelaram a precariedade do sistema hospitalar. Em outubro, uma gestante morreu após perder o bebê no Hospital do Guamá. Também na capital, em agosto, uma mulher perdeu os filhos gêmeos após outro caso de falta de atendimento na Santa Casa.
guamá hospital pará belém mulher morreu lá e G1 entrou (Foto: Tahiane Stochero/G1)guamá hospital pará belém mulher morreu lá e G1 entrou
(Foto: Tahiane Stochero/G1)
Dados do Sistema Único de Saúde computados pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp) apontam um déficit de mais de 11,5 mil leitos no estado, sendo cerca de 7 mil na área que corresponderá ao novo Pará, caso a separação seja aprovada pelo povo.
A reportagem do G1 entrou nos Hospitais Municipais do Guamá no dia 31 de outubro e no Mário Pinotti, em 30 de outubro, e viu nos corredores pacientes recebendo atendimento em macas improvisadas e cadeiras.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que o hospital de Guamá atendeu 9.592 pessoas somente no mês de outubro, sendo 721 de outros municípios do estado. A pasta diz que regula a transferência dos pacientes que aguardam um leito, não tendo autonomia para administrar os leitos dos hospitais de referência, que são administrados pelo governo do estado, e os conveniados ao SUS, o que pode provocar a lotação. Sobre o Mário Pinotti, a secretaria informou que a unidade também atende diariamente mais que a capacidade - são 213 leitos para 450 atendimentos diários.
Delegacias em hospitaisPara agilizar a investigação de crimes violentos, a Polícia Civil do Pará instalou dentro de três hospitais municipais de Belém bases de delegacias que só registram boletins de ocorrência de assassinatos, tentativas de homicídio ou acidentes de trânsito com vítimas. As bases estão no Hospital de Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, no hospital do Guamá e no metropolitano de Belém. Os postos atuam em plantões de 24 horas.
Somente as partes interessadas (a família da vítima ou a polícia) podem registrar o crime. “Se a ambulância socorre um baleado na rua e traz para cá, assim que os familiares chegam, fazem o registro. Ou nós mesmos, os policiais, podemos já registrar o caso para começar a investigação, se acharmos necessário”, diz o investigador José Maria Aires.
Segundo dados do Ministério da Justiça divulgados no Mapa da Violência de 2011, o número de homicídios no Pará quadruplicou nos últimos 10 anos. O diretor de Inteligência e Análise Criminal da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará, Antônio Cláudio Farias, diz que há um trabalho das polícias para reduzir os índices. De janeiro a setembro, segundo ele, o número de homicídios foi reduzido em 16% no estado, enquanto que o de latrocínios caiu 35%, em comparação com o mesmo período de 2010.
PlebiscitoOs eleitores do Pará irão à urnas em 11 de dezembro para responder a duas perguntas: “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Carajás?” e “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Tapajós?”.
Em um possível cenário de divisão do Pará, o futuro estado de Carajás será composto por 39 municípios, tendo Marabá como capital; o estado de Tapajós, 27 municípios, e Santarém como capital; e o novo Pará, 77 municípios, e Belém continuaria sendo a capital.

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