segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Escola indígena do litoral de SP tem a pior média do país no Enem


Juliana CardilliDo G1 SP, em Bertioga
Pior escola de SP no Enem tem playground cercado de lama (Foto: Juliana Cardilli/G1)Pior escola de SP no Enem tem playground cercado de lama (Foto: Juliana Cardilli/G1)
Cinco salas de aula para sete turmas, sem biblioteca, internet, laboratório ou área de recreação, cercada por lama. É assim a Escola Estadual Indígena Txeru Ba’ e’ Kua I, em Bertioga, no litoral de São Paulo. Localizada dentro de uma reserva indígena e utilizando a estrutura de uma escola municipal também voltada para os índios, a Txeru teve nota média de 432 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2010  Foi a pior nota média no estado de São Paulo . Foi também o pior desempenho do Brasil entre as escolas com participação na prova de 75% a 100% dos alunos.
O Ministério da Educação mudou o critério de divulgação das notas por escola do Enem. Foram criadas quatro categorias de acordo com a porcentagem de participação no Enem 2010:
Grupo 1: de 75% a 100% (17,8% das escolas)
Grupo 2: de 50% a 74,9% (20,9% das escolas)
Grupo 3: de 25% a 49,9% (33% das escolas)
Grupo 4: de 2% a 24,9% (27,4% das escolas)
De acordo com a nota técnica divulgada pelo MEC, não se deve misturar as categorias para comparação de desempenho entre as escolas. As escolas que tiveram menos de 2% de participação não foram consideradas. De acordo com o MEC, a média de participação dos estudantes no Enem 2010 foi de 56,4%.
Refeitório da escola indígena (Foto: Juliana Cardilli/G1)Refeitório da escola indígena (Foto: Juliana
Cardilli/G1)
Aulas de cultura indígena
A Escola Estadual Indígena Txeru Ba’ e’ Kua I tem turmas entre o 5º e o 8º anos do ensino fundamental e do 1º ao 3º ano do ensino médio e fica localizada na Terra Indígena Ribeirão Silveira. Os alunos, todos moradores da reserva, estudam o conteúdo tradicional oferecido pelo estado, mas também têm aulas extras, voltadas para a cultura indígena, como a de artes. Neste ano, o professor dessa disciplina é Marcelo Wera, de 20 anos – ex-aluno da escola que prestou o Enem no ano passado.

Wera queria fazer faculdade de artes ou educação física, mas nem sequer soube qual foi sua nota no Enem. “Na nossa escola falta internet para ter acesso”, contou. “Falta biblioteca, não tem jornal, revista. Mas os professores incentivaram muito ano passado. Nós estudamos as provas antigas para treinar.”

As aulas na escola estadual ocorrem apenas no período da tarde – durante a manhã, a estrutura é utilizada pelo município, com aulas do 1º ao 4º ano do ensino fundamental. Segundo o registro no Ministério das Comunicações, que compila os dados sobre as escolas, a Texru tem no total 83 alunos – sendo 40 no ensino médio.
Colégio tem cinco salas para sete turmas (Foto: Juliana Cardilli/G1)Colégio tem cinco salas para sete turmas (Foto:
Juliana Cardilli/G1)
Arredios, muitos pais e alunos não gostam de falar sobre a escola. E, muitas vezes, não sabem dizer o que falta. “Meu filho estuda aí, mas não sei se ele vai conseguir fazer uma faculdade. Sei que não é muito bom, mas não sei dizer o que falta”, contou uma das moradoras da reserva, que não quis dar seu nome.

As salas usadas pela escola foram montadas em disposição semelhante à de ocas, mas feitas de alvenaria. Elas estão dispostas em um espaço aberto, e há cobertura na ligação entre elas. No entorno, entretanto, são cercadas de terra e grama, formando lama quando chove.

Nesta sexta-feira (8), quando a equipe de reportagem do G1 esteve na escola, a diretora não estava. Em contato por telefone, ela afirmou que estava em uma reunião na diretoria de ensino e disse que só podia dar entrevista sobre o assunto com autorização prévia.
A Secretaria de Estado da Educação informou que a escola funciona “em um prédio do Estado, de uso compartilhado com a Prefeitura do município de Bertioga” – entretanto, as estruturas das salas de aula têm placas apenas da Prefeitura de Bertioga, e funcionários informaram no local que a estrutura principal é municipal.
Ainda de acordo com a secretaria, “a unidade possui estrutura capaz de atender o número de alunos moradores da aldeia, inclusive com a disponibilidade de acesso à Internet na sala de informática da instituição de ensino”. No registro no site do Ministério das comunicações, entretanto, consta que há laboratório de informática, mas sem uso dos alunos – que relataram não ter acesso à internet.
Em relação à nota média obtida no Enem, a secretaria informou que não irá se pronunciar sobre o assunto por não ter tido acesso aos resultados.

Já a Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que não é responsável pela gestão educacional da unidade, e apenas acompanha itens como a qualidade das instalações, o tipo da merenda fornecida e a política de preservação da população indígena.
Escola aparece na pior colocação de SP em um dos grupos estipulados pelo MEC (Foto: Juliana Cardilli/G1)Escola aparece na pior colocação de SP em um dos grupos estipulados pelo MEC (Foto: Juliana Cardilli/G1)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...