segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Mulher se arrisca de barco para salvar o que sobrou de loja em SC


Rosanne D'AgostinoDo G1, em Rio do Sul (SC)
  Comerciantes pegos de surpresa pelas enchentes em Rio do Sul limpavam suas lojas neste domingo (11) com resignação. Na cidade, que decretou calamidade pública em Santa Catarina depois do segundo pior alagamento de sua história, quase ninguém conseguiu salvar seus pertences a tempo.

Em meio ao cenário de destruição, uma lojista chamava a atenção: tentava salvar o que restou da loja, completamente alagada, de barco.

A mulher se agarrava à fechadura, que demorava a abrir. O barco batia na porta, e se afastava. Ela puxava, até que conseguiu entrar. Com uma gaveta, tirava objetos. A maioria coberta de lama. A loja está alagada há cinco dias. Não havia previsão para a água baixar.
Mulher se arrisca de barco para tentar salvar objetos de uma das lojas inundadas no centro de Rio do Sul; a loja ficou alagada por cinco dias (Foto: Rosanne D'Agostiino/G1)Mulher se arrisca de barco para tentar salvar objetos de uma das lojas inundadas no centro de Rio do Sul; a loja ficou alagada por cinco dias (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)

A loja fica no centro da cidade, onde todos os comércios foram afetados e os moradores começavam a retirar a lama.
Em algumas lojas, os produtos se misturavam à lama. Poucos querem falar. A maioria prefere continuar, em silêncio, a trabalhar. Na rua, o barulho é apenas dos tratores, que tentam abrir caminho no lamaçal. “Isso aconteceu por algum motivo, mas a cidade vai se reerguer. Só não sei quanto tempo vai demorar”, diz André Sarmino, 35. “Não sei como vamos recomeçar.”
Comerciantes perderam tudo em Rio do Sul (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)Comerciantes perderam tudo em Rio do Sul (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)

Lojas continuam debaixo d'água em Rio do Sul (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)Lojas continuam debaixo d'água em Rio do Sul (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)
AlagadosMoradores há uma semana fora de casa, ruas completamente inundadas, casas debaixo d’água, tratores, barcos, carros do Exército, lama, desespero. Rio do Sul vive dias de caos, sem previsão de término. O cenário é de destruição.
Desde a quinta-feira (8), quando a água começou a invadir as casas devagar, quase 70% da cidade está debaixo d’água. Os alagamentos chegaram a cobrir 90%. A cidade subiu o morro, contam os moradores. A reportagem do G1 conseguiu chegar ao local apenas neste domingo (11), dia em que a passagem pela BR-470 foi reaberta. São 350 metros para chegar ao centro. Depois, fim da linha: o resto permanece submerso.
Entrada alagada de Rio do Sul (Foto: Rosanne D'Agostino)Entrada alagada de Rio do Sul (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)
Localizada em um vale por onde passa o rio Itajaí-Açu, que depois vai desembocar em Blumenau, Itajaí e outras cidades atingidas pelas enchentes, Rio do Sul foi a mais afetada. Desta vez, diferentemente de 2008, quando pouca gente se viu com a casa inundada, choveu por três dias seguidos sem parar. Trovões, raios. Desde o início do mês, duas enchentes menores já haviam atingido a cidade.
‘Ninguém entra, ninguém sai’
A Defesa Civil falava em um nível de 12 metros do rio, que só em Blumenau alcançou 12,4 metros. Os moradores, descrentes que a situação seria tão grave, não retiraram os objetos do comércio, e poucos levaram os pertences das casas. Uma parte está em casa de parentes, outra, ilhada há vários dias, e outra, em abrigos.
Moradores ilhados esperam ajuda e tentam sair de barco pela janela de uma das casas na entrada de Rio do Sul; o Exército chegou à cidade neste domingo (11) (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)Moradores ilhados esperam ajuda e tentam sair de barco pela janela de uma das casas na entrada de Rio do Sul; o Exército chegou à cidade neste domingo (11) (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)
O abastecimento da cidade está prejudicado. Apenas um mercado está aberto, quase vazio. O único posto de gasolina está sem combustível. Cinco barragens na região estão com as comportas abertas, e todas vertendo. O sol raiou neste domingo. Se continuar assim, pelo menos uma semana ainda há de espera para Rio do Sul e suas vizinhas, Agronômica, Ituporanga, Aurora, Taió, Presidente Getúlio, Laurentino e Lontras, saírem debaixo das águas do Itajaí-Açu.
Ao todo, as chuvas em Santa Catarina afetaram quase 1 milhão de pessoas, 929,9 mil, em 91 municípios - muitos deles sofreram desabamentos, enchentes e tiveram casas completamente "engolidas" pelas águas. O número de desalojados, que estava em 167 mil na noite de sábado, caiu para 156,4 mil neste domingo. Até as 13h deste domingo, foram contabilizados 3 mortos, 3 feridos e 122 enfermos.
Oficialmente, duas pessoas morreram: um homem de 65 anos morto na quinta-feira (8), em Guabiruba, e outro de 50 anos, que morreu afogado em Itajaí neste sábado (10). Um terceiro homem, porém, morreu após ser atingido por uma descarga elétrica na sexta-feira (9), enquanto remava em um barco em Rio do Sul. Como o corpo não foi retirado da área isolada, não há confirmação oficial.

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