sábado, 2 de junho de 2012

Chef brasileiro faz degustação de gastronomia bizarra na China


Fala-se que em Salvador é possível conhecer uma igreja por dia durante um ano sem repetir o lugar. Pois a criativa gastronomia de Pequim, na China, oferece a possibilidade de provar sabores e pratos exóticos com a mesma variedade, de sopa de pênis de cobra a ninho de gaivota recheado de ova de caranguejo.
A cozinha chinesa varia em cada região do país, mas o que não muda é o aproveitamento de quase tudo. Há um fundo de verdade quando se diz que na China se come tudo que tenha quatro patas, exceto cadeiras e mesas, e tudo o que voe, exceto aviões.
Mas o que vale a pena experimentar e o que é simplesmente bizarrice? Em busca da resposta, o G1 convidou o chef brasileiro Geraldo Thomazini, que mora há três em Pequim, a separar o joio do trigo.
A degustação começou com comidas fritas de rua, como os escorpiões em espetos e passou por um restaurante especializado em servir pratos à base de pênis de animais.
Degustação de pratos com pênis de animais no restaurante Guoli Zhuang. A partir do alto à esquerda, em sentido horário: Pênis de cavalo, de cachorro, de veado e de cobra (Foto: Paula Ramón/G1)
FriturasO início do passeio com Thomazini, que comanda a cozinha do restaurante fussion Alameda, começou na tradicional rua de comidas de Wangfujing. Perto da praça da Paz Celestial, o espaço virou ponto turístico obrigatório para chineses e estrangeiros. Thomazini, de 33 anos, tirou o avental por um dia para experimentar algumas das bizarrices culinárias que nunca havia provado. 
A opinião do chef brasileiro Geraldo Thomazini 
Espetinho de escorpião
Um lanche legal para tomar numa parada de caminhão com um belo copo de cachaça para acompanhar. Textura de osso de peixe frito e gosto de torresminho frito no mínimo umas quatro vezes 
Espetinho de cavalo marinho
É como mastigar um pedaço de calça que ficou na água com sal por uma hora. Depois de cansar de mastigar, é só jogar fora
Pele de cobra frita
Tem textura de gelatina, mas o sabor não lembra outras coisas 
Carne de cobra 
Lembra muito a carne de lula, mas com um gosto menos acentuado. Até mesmo na cor. Se alguém fizer uma caçarola de cobra com molho de tomate e brócolis e azeitonas e der para algumas pessoas acostumadas a comer carne de lula, vão dizer que é 
Ninho de pássaro 
Muito legal, apesar de o recheio ser de caranguejo, mas não ter gosto de caranguejo. Tem formato de bolinho de bacalhau mas é crocante como batata 
Bumbum de abelha 
Crocante, salgadinha e um sabor que lembra aquele queijinho frito que vai na pipoca da festa da quermesse. Pode ser na salada, no aperitivo para acompanhar cerveja, ou até mesmo sobre uma massa ou outro prato 
Pênis de cavalo com pepino marinho 
Muito cartilaginoso, com sabor acentuado, mas nada atrativo. O excesso de condimentos, shoyu e outros ingredientes que os chineses usam em sua gastronomia mascaram o sabor da carne 
Sopa de pênis de cobra 
É ate saborosa, parece feita com milho, mas o pênis não dá para encarar 
Pênis do cachorro com vegetais 
Cartilaginoso, mas tem osso também. Lembra um prato chinês pelos temperos utilizados 
 Além do “cartão-postal” mais conhecido -- escorpião empalado vivo e frito na hora --, há também espetinhos de estrelas do mar, cavalo marinho, aranhas, cobras, bicho da seda, centopeias e filhotes de pássaro. Fora do espeto, há ainda pombos assados inteiros, estômago de boi, ninho de gaivota, o impressionante tofu fedido e alguns doces mais tradicionais.
Depois de experimentar escorpião, cavalo marinho, cobra e ninho de pássaro, Thomazini concluiu que o espaço é um lugar mais voltado para turistas e curiosos. “Não contribui nada do ponto de vista da técnica, é só fritar mesmo. É bem diferente do pato pequinês, por exemplo, cujo forno a lenha utilizado tem técnicas especiais para conservar o gosto”.
Entre caretas e mordidas cautelosas, uma boa surpresa: ninho de gaivota (feito com a saliva da ave) com recheio de ova de camarão. “Poderia ser campeão do concurso dos botecos de Belo Horizonte”, diz.
Pênis de animais
Após o aperitivo, o chef escolheu o restaurante Guoli Zhuang, especializado em pratos à base de pênis de animais, para o jantar.
Trata-se de um dos endereços mais caros da cidade: os preços variam de 130 yuan (R$ 41) para uma sopa de pênis de cobra a 1.300 yuan (R$ 417) para um “hot pot” com oito diferentes pênis (macaco, cavalo, carneiro, burro, cachorro, veado, porco e cobra).
Com quatro sucursais na cidade, o lugar quer atrair não tanto pelo paladar, mas pela promessa de poderes afrodisíacos. Tanto que, no banheiro, as pias têm formato de bumbuns femininos.
Decoração do restaurante Guoli Zhuang, especializado pênis de animais (Foto: Paula Ramón/G1)
Segundo a gerente do local, o pênis mais popular é o do veado “porque os clientes acham que ele tem propriedades especiais”. Ela assegura que os animais são criados em fazendas especiais e afirma que os principais clientes do restaurante são integrantes do governo e líderes de empresas nacionais. “Eles vêm aqui para comer os nossos pratos tradicionais e medicinais", diz ela.
‘Só cartilagem’
Para o paladar, segundo o brasileiro, o resultado é frustrante. “É só cartilagem”, diz o chef. “Todos os animais têm partes que podem ser mais bem utilizadas e com maior gosto”.
Ao final da refeição, uma bailarina faz um show particular para estimular os “poderes especiais”. Mas isso já não é um tema culinário.
No dia seguinte, o almoço foi no restaurante Yunteng Shifu. Especializado em comida de Yunnan, sudoeste chinês, o local foi votado entre os melhores restaurantes regionais da cidade. Especialidade? O bumbum da abelha.
“É muito melhor do que a nossa famosa tanajura, a formiga gigante. O (apresentador) Olivier Anquier, apaixonado por tanajuras, iria se deliciar com as abelhas”, disse.
  g1

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