sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Maria Bethânia é aplaudida de pé na abertura da Fliporto, em Olinda


Maria Bethânia na Fliporto - Olinda (Foto: Luna Markman / G1)Maria Bethânia apresentou, na Fliporto, o recital 'Bethânia e as palavras' (Foto: Luna Markman / G1)
Começou com atraso e vaias a abertura da Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), em Olinda, nesta quinta-feira (15) - mas nada que uma grande dose de poesia, música e emoção não resolvesse. Todo mundo parecia bastante ansioso para ver o espetáculo “Bethânia e as Palavras”, de Maria Bethânia. Às 17h, já tinha gente na fila. Marcado para as 19h, o recital começou às 19h40, após desculpas do idealizador do evento, Antonio Campos. A baiana entrou em cena com um sorriso no rosto, dizendo estar ali desde as 16h, porque é careta com horário. Depois, o público esqueceu o “aperreio” e aplaudiu de pé.
Bethânia tem mais de 40 anos de carreira e 50 discos lançados, incluindo o mais recente “Oásis de Bethânia”, que chegou às lojas em março deste ano, cheio de MPB, fado e, claro, poesia. A cantora é uma das artistas brasileiras mais engajadas na literatura. Quem vai ao show da baiana já está acostumado a vê-la declamando poemas entre uma música e outra, principalmente do autor luso Fernando Pessoa, inovando, assim, a forma de fazer espetáculos no Brasil.
Maria Bethânia na Fliporto - Olinda (Foto: Luna Markman / G1)
Os ingressos para esta leitura poética foram vendidos em dez horas. A tenda onde o espetáculo ocorreu, que também vai receber o Congresso Literário durante a Fliporto, tinha cerca de mil pessoas. Do lado de fora, telões transmitiam tudo para um público ainda maior, mais barulhento e mesclado, mas imerso em cada palavra dita e cantada. Os textos declamados foram de autores de língua portuguesa, como Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Antonio Ramos Rosa, entre outros. Entre os temas, o tempo, a poesia, Bahia, sertão, Portugal, o amor, a natureza e a religião.
Trechos de músicas como “ABC do Sertão” (Luiz Gonzaga), “Romaria” (Renato Teixeira) e “Último Pau de Arara” (J. Guimarães / Venâncio / Corumbá) foram bastante aplaudidos. As leituras ainda foram intercaladas por “Estranha Forma de Vida” (Amália Rodrigues), “Marinheiro Só” (domínio público / adaptação Caetano Veloso), “Dança da Solidão” (Paulinho da Viola) e “Menino de Braçanã” (Luis Vieira / Arnaldo Passos), entre outras. A voz suave e firme da cantora foi acompanhada melodicamente pelo percussionista Carlos Cesar e pelo violonista Jaime Alem.
Bethânia só precisa do texto nas mãos e seus óculos para emocionar a plateia com esse exercício de delicadeza, que percorre o Brasil desde o começo de 2011. O projeto surgiu de um pedido da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Esse recital foi pensado para casas de ensino, para levar essa expressão artística para as salas de aula”, falou.
A apresentação deu origem ao projeto do blog "O Mundo Precisa de Poesia", aprovado pelo Ministério da Cultura, que obteve R$ 1,35 milhão da Lei Rouanet. Após críticas nas redes sociais, foi arquivado. Mas “Bethânia e as Palavras” continua firme e serve como uma campanha pelo ensino e valorização da poesia nas escolas, principalmente públicas, do país.
Público acompanha no telão externo o recital de Maria Bethânia (Foto: Luna Markman / G1)
Essa bandeira, a cantora levantou após recitar “Ciclos”, um poema de Nestor de Oliveira, que foi professor dela e do irmão Caetano Veloso, durante o ginasial, em uma escola pública do Recôncavo baiano. “Eu me emociono muito, porque, além da didática, ele ensinou a gente a ler, ouvir e dizer poesia. Isso serve para mostrar que é possível ter uma educação boa e plena nas escolas públicas do Brasil”, falou.
A cantora agradeceu a oportunidade de se apresentar na Fliporto, ressaltado que o evento significa muito para o país. Ela até voltou em um raro bis, cantando uma música de acalanto, sem nome, e “Reconvexo”, mais que um clássico na interpretação da baiana. A analista Cláudia Montagnole está conhecendo a festa pela primeira vez e fez questão de assistir, novamente, ao espetáculo de Bethânia. “Vale a pena, porque ela é única. O jeito que ela se dedica à leitura é diferente”, falou. Ela foi acompanhada da professora paulista Cláudia Oliveira. “Ela carrega a bandeira da educação, o que é muito bom. Ouvi falar da Fliporto e quis muito conhecer, porque sempre vou à de [Festa Literária de] Paraty. Quero muito ver as palestras com Mia Couto e Ariano Suassuna", apontou.
A baiana conquistou também novos fãs esta noite, como as estudantes Janaína Souza e Gisele Costa. “Eu só conhecia por nome, nunca tinha ouvido [Bethânia] cantar, mas depois de hoje me tornei fã de verdade, porque a voz dela é linda e ela passa uma emoção, um calor humano muito grande”, disse Janaína. “Ela interpreta o poema como se fosse uma história e ainda tem música. Assim fica mais fácil de entender poesia”, completou Gisele.
G1

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