segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

'Para esse médico não tem perdão', diz pai de menina baleada no Rio


"Para esse médico não tem perdão" , afirmou, nesta segunda-feira (31), Marco Antônio, o pai da menina Adrielly dos Santos, de 10 anos, que teve morte encefálica neste domingo (30), após ser atingida por uma bala perdida na cabeça na noite de Natal, em Piedade, no Subúrbio do Rio. Ele chegou por volta de 7h30 ao Hospital Souza Aguiar, no Centro, onde ela está internada. Com a aparência abatida, ele disse que se não fosse pela falta do médico no Hospital Salgado Filho, no Méier, para onde a criança foi levada no dia do ferimento, para realizar a cirurgia de retirada do projétil, Adrielly poderia estar viva.
“Minha filha ficou mais de oito horas esperando atendimento, sem médico para atender, sem ambulância para remover. Eu acho isso um absurdo. A gente trabalha todo mês é descontado do nosso salário, a gente paga hospital, paga INSS, e no fim das contas a gente leva isso aí. É isso que a acontece. A gente é tratado como ‘João ninguém’, um nada. É uma falta de respeito muito grande com a população, não só com a minha filha, mas com as outras pessoas que deixaram de ser atendidas, crianças e idosos que  chegaram feridas naquela noite e não tinha ninguém para atender”, declarou Marco Antônio, bastante emocionado.
Marco Antônio responsabilizou o neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves, que foi afastado temporariamente do cargo, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, após faltar o plantão.
“A gente está arrebentado. Nós perdemos um pedaço da gente. Eles não só conseguiram acabar com a alegria e a felicidade de uma criança, como conseguiram destruir duas famílias ao mesmo tempo, a minha e da minha esposa, amigos, parentes, os mais próximos, está todo mundo sentido. Isso chocou o Brasil inteiro. Eles têm que colocar a mão na consciência. Principalmente este médico para ele ver o que ele fez na vida de todo mundo. Ele conseguiu destruir tudo, acabar com tudo o que agente tinha que mais amava”, acrescentou.
Acompanhado de parentes e amigos, ele aguardava, na manhã desta segunda-feira, orientações médicas, mas não descartou a doação de órgãos. “Ela teve morte encefálica, mas o coração dela continua batendo, só que ela não tem mais nenhuma chance de vida. Eu penso em doação de órgão, mas não posso tomar nenhuma atitude sem o consentimento da minha esposa. O que ela decidir para mim está bom”, afirmou.
Marco Antônio e familiares deixaram o Hospital Souza Aguiar nesta segunda por volta de 9h. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio, Adrielly permanecia respirando com a ajuda de aparelhos em torno deste horário.
Marco Antônio declarou ainda que já fazia planos para uma festa para Adrielly quando ela retornasse para a casa.Menina sapeca
Com os olhos marejados, Marco Antônio relembrou com carinho da filha Adrielly. Segundo ele, ela era levada, mas uma menina boa, que todo mundo gostava. “Ela era uma menina levada, sapeca, todo mundo gostava dela. Isso chocou o Brasil inteiro”, declarou bastante emocionado.

“Infelizmente foi interrompido, a gente pretendia fazer uma festa para volta dela, mas infelizmente não foi possível. A gente ia passar em casa, nós íamos fazer uma festa na rua para ela, até uma certa hora também, porque não vou ficar mais na rua até tarde,  isso deixou minha esposa traumatizada, isso só mostra que o Rio de Janeiro está um perigo”, concluiu.
Entenda o caso
Adrielly esperou por oito horas para realizar a cirurgia para retirada do projétil da cabeça. A polícia investiga se houve omissão de socorro devido à longa espera. O motivo seria a falta ao plantão do neurocirugião Adão Orlando Crespo Gonçalves, que foi afastado temporariamente do cargo, segundo a Secretaria municipal de Saúde, e um inquérito administrativo foi aberto. Segundo a nota, só é caracterizado abandono após 30 dias de ausência do médico, que terá as faltas descontadas do salário.

A polícia começou nesta quinta a ouvir os envolvidos no inquérito que apura se houve omissão de socorro à menina. O diretor geral do hospital, Conrado Norberto Weber Júnior, foi um dos primeiros a prestar depoimento, ainda na quinta, e deu explicações ao delegado a respeito da rotina de funcionamento do hospital, inclusive em escalas especiais.
Na sexta (28), estavam previstos para serem ouvidos, além de Adão, o chefe da equipe médica, Ênio Eduardo Lima Lopes; e Mário Alberto Lapenta, que assumiu o plantão no dia 25 pela manhã e fez a cirurgia para a retirada da bala da cabeça de Adrielly.
Os pais da menina Adrielly deixam a 23ª DP após prestarem depoimento (Foto: Janaína Carvalho/G1)Os pais da menina Adrielly deixam a 23ª DP após prestarem depoimento (Foto: Janaína Carvalho/G1)
Os pais da menina conversaram, nesta quarta-feira (26), por cerca de uma hora com Archimedes sobre a demora no atendimento da filha. Ele contou que o delegado perguntou como Adrielly foi alvejada e como ela caiu. Marco Antônio disse ainda ao delegado que, quando chegou ao hospital, não havia médico e aguardou oito horas até a filha ser levada para a cirurgia.
Baleada por tiros de traficantes
O caso ocorreu na Rua Amália, perto dos morros do Urubu e do Urubuzinho, em Piedade. Ela havia acabado de ganhar seu presente de Natal quando foi atingida por uma bala perdida, segundo o pai.

Eles estavam na rua, no momento em que traficantes dos morros do Urubu e Urubuzinho começaram a soltar fogos e dar tiros para o alto, ainda de acordo com Marco Antônio.
Pais aguardam notícias sobre Adriele, de 10 anos, atingida por bala perdida na noite de Natal (Foto: Marcelo Ahmed/G1)
"Ela estava animada que tinha acabado de ganhar uma boneca de presente. Quando foi mostrar o presente, ela caiu. Pensamos que ela tinha machucado a cabeça na queda", contou o pai de Adrielly, acrescentando que a menina no  deu entrada no Salgado Filho à 0h20 desta terça-feira (25).
Só no hospital é que os pais ficaram sabendo que a menina tinha uma bala alojada na cabeça. "Até as 3h da manhã nós não sabíamos de nada. Isso é um absurdo. Não tem ambulância nem médico para operar a minha filha", disse Marco Antônio, pouco antes das 8h20 desta terça, quando foi informado sobre a chegada de um neurocirurgião ao hospital.
Para ler mais notícias do G1 Rio, clique em g1.globo.com/rj. Siga também o G1 Rio noTwitter e por RSS.
G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...