quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Hit de sul-coreano Psy tem crítica social por trás de refrão viciante


Psy e seus dançarinos reproduzem a coreografia do clipe que já teve 160 milhões de visualizações no YouTube em dois meses (Foto: Reuters/Brendan McDermid )Psy e dançarinos reproduzem a coreografia de 'Gangnam style' nos EUA  (Foto: Reuters/Brendan McDermid )












O vídeo de "Gangnam style", do rapper sul-coreano Psy, tem 220 milhões de visualizações no YouTube - número que só cresce - e é fácil dizer o porquê. Nenhuma habilidade em língua coreana é necessária para apreciar a dança do "cavalo-maluco" do artista gordinho e massivamente divertido, o refrão viciante da canção e a maravilhosamente estranha série de desventuras do vídeo.

Aqui está um olhar sobre o significado de "Gangnam style" - e sobre o homem e a vizinhança por trás do sucesso.
Por baixo da superfície engraçada e esquisita da canção que conquistou o mundo, entretanto, está um afiado comentário social sobre os novos ricos do país e Gangnam, o distrito próspero onde muitos deles vivem. Gangnam é só uma pequena fatia de Seul, mas inspira uma complicada mistura de desejo, inveja e amargura.
O lugar
Gangnam é o endereço mais cobiçado na Coreia, mas há menos de duas gerações era pouco mais do que algumas casas isoladas, cercadas por terras planas e valas de drenagem.

O distrito de Gangnam, em Seul, nos anos 80 (Foto: AP/Yonhap/Lee Sung-kyu)
O distrito de Gangnam, que literalmente significa "ao sul do rio", tem cerca de metade do tamanho de Manhattan. Cerca de 1% da população de Seul mora lá, mas a maioria dos seus moradores é muito rica. A média de preço de um apartamento em Gangnam é de US$ 716 mil, quantia que um chefe de família sul-coreano com rendimento médio demoraria 18 anos para ganhar.
Os locais de comércio e governo em Seul sempre estiveram ao norte do rio Han, nas vizinhaças em volta dos palácios reais, e muitas das famílias com dinheiro antigo ainda vivem lá.
Gangnam, entretanto, é o dinheiro novo, o beneficiário de uma explosão de desenvolvimento que começou nos anos 70.
Enquanto o preço de apartamentos de alto nível disparava durante um frenesi de investimentos em imóveis no começo dos anos 2000, proprietários de terras e especuladores se tornaram ricos praticamente da noite para o dia. As famílias ricas do distrito se tornaram ainda mais ricas.
A nova prosperidade trouxe as boutiques e clubes da moda e uma proliferação de clínicas de cirurgia plástica, mas também deu acesso a algo considerado vital na Coreia do Sul moderna: educação de alto nível na forma de prestigiadas escolas privadas. As famílias de Gangnam gastam quatro vezes em educação do que a média nacional.
A noção de que os moradores de Gangnam ascenderam não por seguir as virtudes tradicionais sul-coreanas de trabalho duro e sacrifício, mas simplesmente por viver numa região geográfica cobiçada, irrita muitos. Seus residentes, para alguns, monopolizam as melhores oportunidades de educação do país, as melhores ofertas culturais e a melhor infraestrutura, enquanto gastam alto em artigos de luxo importados para destacar sua riqueza.
Estação do opulento distrito de Gangnam, em Seul, em 2012 (Foto: AP/Hye Soo Nah)Estação do opulento distrito de Gangnam, em Seul, em 2012 (Foto: AP/Hye Soo Nah)
"Gangnam inspira inveja e desgosto", diz Kim Zakka, um crítico de música pop de Seul. "Os moradores de Gangnam são da classe alta da Coreia do Sul, mas os sul-coreanos consideram-nos egoístas, sem senso de honra".
De forma esperta e divertida, Psy trabalha com essas questões culturais.
O homem
Outros artistas de K-pop, já famosos na Coreia do Sul e pela Ásia, tentaram e falharam em atingir o mercado americano.

Então, como Psy - também conhecido como Park Jae-sang - um rapper atarracado de 34 anos, que foi multado em US$ 4,5 mil por fumar maconha depois de sua estreia em 2001, conseguiu ser o homem que ensinou Britney Spears a fazer a dança do cavalo-louco na TV americana?
"Eu não sou bonito, não sou alto, não sou musculoso, não sou magro", Psy disse recentemente no programa de TV americano "Today". "Mas aqui estou."
Ele atribuiu seu sucesso a sua "alma ou postura".
Psy, cujo nome artístico vem das três primeiras letras da palavra psicopata, sempre se definiu como um "outsider" peculiar. Mas ele é de uma família rica e foi, na verdade, criado e educado ao sul do rio Han, perto de Gangnam.
Ele é um ótimo dançarino, rapper confiante e engraçado, mas outro motivo para o seu estouro pode ser sua imagem menos polida, disse Jae-Ha Kim, uma colunista de cultura pop do "Chicago Tribune" e ex-crítica musical.
A música sul-coreana conseguiu grandes hits na Ásia com bandas de jovens bonitos, estilosos e de maquiagem, incluindo Super Junior e Boyfriend. Mas ver cantores assim "deixa os americanos nervosos", diz Kim. "As pessoas nos EUA são confortáveis com os caras da Ásia que se parecem Jackie Chan e Jet Li, que têm boa aparência, mas eles não são os equivalentes de Brad Pitt ou Keanu Reeves", diz Kim.
Parte do interesse inicial em "Gangnam style", diz Kim, foi um tipo de "mentalidade de show de horrores, em que as pessoas acham o cara engraçado. Mas então você olha para a sua coreografia e percebe que você realmente tem que saber dançar para fazer o que ele faz. Ele é realmente bom."
Psy canta e dança 'Gangnam style' no programa 'Today', da NBC (Foto: Reuters/Brendan McDermid )Psy canta e dança 'Gangnam style' no programa 'Today', da NBC (Foto: Reuters/Brendan McDermid )
A música
Psy, às vezes vestido camisas sem manga com gravatas sem nó, repetidamente desrespeita as noções populares sul-coreanas sobre Gangnam em seu vídeo.

Em vez de se divertir em boates, ele festeja com aposentados em um ônibus de turnê com luzes disco. Em vez de malhar em uma academia de primeira, ele pega uma sauna com dois gangsteres tatuados. Enquanto ele caminha com duas belas modelos, eles são atingidos no rosto com quantidades enormes de lixo e confete pegajoso. O trono de onde ele faz seu discurso hip-hop é um vaso sanitário.
A música explora a "relação de amor e ódio da Coreia do Sul com Gangnam", diz Baak Eun-seok, um crítico de música pop. O resto da Coreia do Sul vê os residentes de Gangham como tudo que Psy não é, Baak diz: bonitos por causa de cirurgias plásticas, estilosos porque podem gastar em artigos de luxo, magros graças a ioga e personal trainers.
"Psy parece um caipira. Ele está muito longe do chamado 'estilo Gangnam'", diz Baak. "Ele está parodiando a si mesmo."
O vídeo está repleto de imagens irônicas, "não de classe alta", que os sul-coreanos reconhecem, diz Bark Byoung-soo, um comentarista social que tem um blog de arte visual popular. Homens velhos jogando um jogo de tabuleiro coreano e mulheres de meia idade usando chapéus de abas largas para se protegerem so sol enquanto andam para trás - uma maneira popular de se exercitar na Coreia do Sul.
O personagem de Psy no vídeo é modelado nos heróis sem noção de filmes como "Corra que a polícia vem aí" e "Debi & Lóide", ele disse à agência Yonhap no início deste ano. Ele também disse que seu objetivo é "se vestir com classe, mas dançar de um jeito brega."
Outros veem mais do que apenas um estranho pateta.
"Psy faz algo em seu vídeo que poucos outros artistas, coreanos ou não, fazem: ele parodia o mais rico, mais poderoso bairro da Coreia do Sul", escreve Sukjong Hong, escritor a Open City, uma revista digital.
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G1

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