segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Críticas fizeram Mitt Romney divulgar impostos pagos; entenda a polêmica


Dono de uma fortuna estimada em US$ 250 milhões, erguida durante anos como executivo, o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, recebeu críticas sobre um assunto delicado: o pagamento de impostos. A resistência do rival de Barack Obama em divulgar seus impostos pagos nos últimos anos – uma tradição nas eleições americanas – gerou dúvidas sobre seus rendimentos, sua participação na economia e sua capacidade de tomar medidas necessárias para recuperar o país.
romney, avião (Foto: AP)
Nos Estados Unidos, os rendimentos gerados por investimentos possuem taxação menor do que ganhos provenientes de renda salarial. Em 2011, Romney pagou 14,1% de imposto sobre uma renda de US$ 13,6 milhões – ou cerca de US$ 2 milhões –, provenientes de dividendos de aplicações financeiras e outros investimentos. O relatório de 2010 aponta um pagamento de 13,9%. Já o trabalhador médio americano chega a pagar 35% de imposto.

[Divulgar os pagamentos] foi uma forma de minimizar os estragos. Fica a impressão de que eles não querem mostrar, mas divulgam minimamente para falar que mostrou"
"Quase todos os candidatos divulgam sua declaração de impostos, pelo menos por um período de anos. Todos os candidatos à presidência fazem isso. O governador Romney é mais rico do que qualquer pessoa que já concorreu à presidência em um bom tempo. Há questões sobre como ele tem investido seu dinheiro e se ele não paga os impostos que deveria", explica Sandy Maisel, titular da cadeira William R. Kenan Jr. do Departamento de Governo de Colby College e especialista em partidos políticos e eleições nos EUA.

"A nossa igreja não publica o quanto as pessoas dão. Isso é feito de forma totalmente privada", disse Romney em uma
 entrevista. "Um dos pontos negativos de divulgar a informação financeira de uma pessoa é de que isso agora fica público."Já nas primárias do partido Republicano, Romney havia argumentado que a divulgação de seu imposto de renda não era um dado relevante. O candidato também afirmou não divulgaria suas duas últimas declarações do imposto de renda porque suas doações à Igreja, na forma de dízimo, o deixariam numa posição desconfortável.
Entretanto, após muitas críticas e pressões pela divulgação dos impostos pagos nos dez anos anteriores a 2012 – o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, chegou a afirmar que Romney ficou dez anos sem pagar impostos –, o republicano divulgou uma carta da empresa PricewaterhouseCoopers, que auditou seus pagamentos.
No documento, a empresa afirma que Romney pagou uma média de 20,20% de impostos sobre seus rendimentos por ano entre 1990 e 2009. Nesse período, o republicano nunca pagou menos de 13,66%.
"Foi uma forma de minimizar os estragos. Fica a impressão de que eles não querem mostrar, mas divulgam minimamente para falar que mostrou. Por mais que ele esteja condenado, mostra um pouquinho de inocência, mesmo que aquilo seja insuficiente", afirma Samy Dana, professor da escola de economia da FGV-SP.
"Quando você pleiteia um cargo público, tem que prestar contas da sua vida para a sociedade. Tem que ser discutido sim, ele está defendendo os interesses de quem? A pessoa que é candidata a presidente não o é da noite para o dia. É algo pensado, você vai tomando respaldos de imagem."
O grande problema, entretanto, é o sistema financeiro norte-americano, que permite que os muito ricos paguem impostos proporcionalmente menores. A solução mais simples seria aumentar a taxação sobre quem recebe mais do que um valor mínimo estipulado. Entretanto, os multimilionários e bilionários possuem maneiras de se livrarem disso. A estratégia é comprar imóveis e outros bens de consumo, que não rendem juros, mas se valorizam, aumentando sua fortuna.
O presidente dos EUA, Barack Obama, e seu rival Mitt Romney durante o debate desta segunda-feira (22) em Boca Raton, na Flórida (Foto: AFP)
Visões diferentes
A reforma tributária tem sido um dos temas mais polêmicos das eleições americanas. Os democratas defendem que é preciso aumentar a porcentagem de impostos pagos pelos mais ricos para recuperar a economia. Fazer com que o dinheiro seja aplicado na economia, com geração de empregos, também é importante – o que não acontece no caso dos investimentos de Romney.


Obama tem se referido ao republicano como um rico da elite americana, fora do alcance da legislação. A estratégia é ligar os investimentos pessoais de Romney com o que ele poderá fazer se eleito. Com altos investimentos financeiros no país e também no exterior, além de contas fora dos Estados Unidos, a tendência do republicano seria não promover medidas que prejudicassem outras pessoas como ele, como aumento dos impostos para os mais ricos.
"É claro que investimento é importante, mas também é importante gerar emprego. Essa taxação está desestimulando as pessoas a investir, gerar empregos, para fazer investimentos financeiros", explica Dana.
"O lobby nos Estados Unidos é uma coisa mais institucionalizada que no Brasil. Aqui, é visto como crime. Não que não exista, mas é visto como crime. Nos Estados Unidos, você pode apoiar um deputado por defender seus interesses, mesmo que esse interesse seja você pagar menos imposto que os outros", afirma o professor.
A campanha republicana, entretanto, afirma que a fortuna pessoal do candidato não influencia o modo como ele pretende governar o país.
Mitt Romney e sua mulher, Ann, acenam para apoiadores após evento matinal em Brookwood, na Geórgia (Foto: Gerald Herbert/AP)Mitt Romney e sua mulher, Ann, acenam para apoiadores após evento matinal em Brookwood, na Geórgia; a família do candidato republicano tem fortuna avaliada em US$ 250 milhões (Foto: Gerald Herbert/AP)
A manobra abriu espaço para críticas de que ele haveria utilizado outras formas de manipulação em seus impostos – com o uso de técnicas legais para evitar as taxas – o que o deixaria ainda mais distanciado da população.Polêmica das doações
As doações para caridade também são alvo de polêmica. No resumo das declarações de 1990 a 2009, é apontado que a família Romney doou 13% de seus rendimentos para caridade. Na declaração de 2011, apesar de terem doado US$ 4 milhões com esse fim, apenas US$ 2,5 milhões foram deduzidos do imposto de renda, o que fez com que a taxação ficasse entre 13% e 14%.

Romney também usou as doações - neste caso para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias - como argumento para não liberar seus impostos."A nossa igreja não publica o quanto as pessoas dão. Isso é feito de forma totalmente privada", disse Romney em umaentrevista. "Um dos pontos negativos de divulgar a informação financeira de uma pessoa é de que isso agora fica público."
Além disso, a campanha democrata também se aproveitou de um comentário feito pelo republicano em um vídeo no qual ele diz aos doadores ricos de sua campanha que 47% dos norte-americanos são "vítimas", que dependem do governo, não pagam o imposto de renda federal e provavelmente não vão apoiá-lo.
Os democratas foram rápidos em apontar que os "47%" aos quais Romney se referiu, os que recebem alguma forma de benefício governamental, incluem não apenas os pobres, mas também as famílias da classe trabalhadora, integrantes da força militar e os idosos, parte dos quais Romney precisa do apoio. Após a repercussão, o republicano afirmou que o comentário foi "completamente errado".

Dana também acredita que a polêmica não deve ter tanta influência nas urnas. "Acredito que o eleitor americano seja mais politizado que o brasileiro, mas ainda assim é muito complexo. Vira mais uma questão de marketing político".
Impacto negativo
Para o professor Maisel, a escolha de Romney por, em princípio, não divulgar dados pessoais – posteriormente o republicano mostrou balanço resumido desde a década de 1990 – deixou muitas pessoas desconfiadas. "Se você se recusa a fazer algo, há um motivo. Ele se decidiu por não divulgar, acabou tendo duas semanas de muitas críticas na mídia por isso, mas não acredito que isso será o fator determinante na eleição."

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G1

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